Migrantes que viajam até a Líbia para chegar à Europa correm risco de serem sequestrados, abusados, mortos e vendidos em mercados de escravos no país localizado ao norte da África. Informação é da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que recebeu e divulgou novas denúncias de sobreviventes. Agência da ONU descreveu o território líbio como ‘um arquipélago de tortura’. Refém liberto em Trípoli pesava 35 kg e tinha ferimentos pelo corpo.
Migrantes vítimas de contrabandistas estão sendo vendidos em “mercados de escravos” na Líbia. A informação foi divulgada nesta terça-feria (11) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), que coletou depoimentos de sobreviventes durante o final de semana. Para a agência da ONU, casos se somam a uma “longa lista de violações” registradas no país do norte da África.
“Migrantes que vão para a Líbia tentando chegar à Europa não têm ideia do arquipélago de tortura que os aguarda bem do outro lado da fronteira”, alertou o porta-voz máximo da OIM em Genebra, Leonard Doyle. “Lá, eles se tornam mercadorias a serem compradas, vendidas e descartadas quando não têm mais valor.”
Oficiais do organismo atuando no Níger documentaram o regaste de um senegalês — apresentado apenas pela sigla SC, para proteger sua identidade — que deixou seu país de origem para chegar à Líbia.
Ao chegar à cidade nigerense de Agadez, o homem foi informado de que teria de pagar 320 dólares para seguir viagem rumo ao território líbio. SC aceitou a exigência e deu prosseguimento à jornada pelo deserto.
O percurso transcorreu sem maiores preocupações, o que está longe de ser uma regra — a OIM já foi informada por outros migrantes de que, nesses caminhos, é possível encontrar os restos mortais de vítimas de traficantes. Nas rotas, também são altos os riscos de interceptação por bandidos que desejam roubar combustível.
Quando chegou em Sabha no sudoeste da Líbia, SC foi questionado pelo motorista, que disse não ter sido pago pelo contrabandista contratado pelo senegalês. O condutor do veículo afirmou, então, que ele estava transportando os migrantes para um estacionamento onde SC descobriu um mercado de escravos.
“Migrantes da África Subsaariana estavam sendo vendidos e comprados por líbios, com o apoio de nigerianos e ganeses que trabalhavam para eles”, explicou o funcionário da OIM que prestou assistência ao senegalês.
SC foi comprado e levado para sua primeira prisão, uma propriedade privada onde mais de cem migrantes eram mantidos reféns. Segundo o senegalês, os sequestradores forçavam os prisioneiros a ligarem para seus familiares. Durante o contato, eram frequentemente espancados para que os parentes ouvissem o sofrimento causado pela tortura. O objetivo era motivar o pagamento do resgate, estimado em 480 dólares.
Sem conseguir juntar o dinheiro necessário, o migrante foi comprado por outro líbio e levado a outra casa. O preço do resgate era mais alto — 970 dólares. O montante devia ser pago via Western Union ou Money Gram para um indivíduo chamado Alhadji Balde, que supostamente vivia em Gana.
Após conseguir alguns poucos recursos financeiros com a família, SC concordou em trabalhar como intérprete para os sequestradores, a fim de evitar novos espancamentos. Em seu depoimento à equipe da OIM, o senegalês descreveu condições de higiene terríveis e lembrou que alimentos eram oferecidos apenas uma vez ao dia. O relato indica que reféns sem dinheiro para oferecer aos sequestradores eram mortos ou deixados sem comida até falecer.
Segundo SC, quando alguém morria ou era libertado, novos migrantes eram comprados no mercado. Mulheres também eram vendidas e compradas por indivíduos — também líbios, segundo SC — que as transformavam em escravas sexuais.
A OIM esclarece que recolhe informações de migrantes que voltam da Líbia e passam pelos centros de trânsito da agência da ONU em Niamey e Agadez. SC estava voltando para casa nesta semana após meses em cativeiro.
“Durante os últimos dias, discuti essas histórias com outras pessoas que (também) me contaram casos horríveis. Todos confirmaram os riscos de ser vendidos como escravos em praças ou oficinas em Sabha, ou por seus motoristas ou por moradores locais que recrutam os migrantes para trabalhos diários na cidade, frequentemente na área de construção, e, mais tarde, em vez de pagá-los, vendem suas vítimas a novos compradores”, afirmou um oficial do organismo internacional no Níger.
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Fonte: ONUBR/Nações Unidas no Brasil
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