O prefeito reeleito de Lins, Edgar de Souza (PSDB), casou-se no sábado, mas, ainda assim, a cidade do interior de São Paulo não tem o que se convencionou chamar de primeira-dama. Um dos primeiros prefeitos assumidamente gays do Brasil, Souza casou-se com o empresário Alexsandro Luciano Trindade, com quem mantinha união estável há 13 anos, em cerimônia que agitou a sociedade local.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), em visita ao interior, passou por Lins na véspera para cumprimentar os noivos. O Diversidade Tucana, segmento de políticas LGBT do PSDB, considerou a união um marco na história do país. A cerimônia ecumênica teve oficiantes de vários credos religiosos: uma ministra católica, um pastor anglicano, uma espírita kardecista e um pai de santo.
Os noivos entraram acompanhados pelos pais, familiares, além de pajens e daminhas de honra com as alianças. O “sim” teve direito a lágrimas e beijo. A juíza de casamento Aline de Oliveira, expediu a certidão de matrimônio. “Fizemos questão desse momento para dizer a todos que nos amamos. Corrupção é feio, lavagem de dinheiro é feio, mas o amor é muito bonito”, discursou o prefeito.
Edgar, de 38 anos, e Alex, como o parceiro prefere ser chamado, de 35, conheceram-se na adolescência, mas não houve empatia no primeiro encontro. Os dois só se reencontraram depois de adultos. “Foi em 2004, quando eu já era vereador reeleito. Seis meses depois, decidimos morar juntos.”
Campanha
O prefeito estreou na política aos 20 anos, em 2000, eleito para o primeiro mandato como vereador. Foram três mandatos consecutivos até 2012, quando foi eleito prefeito. Na campanha, decidiu assumir que era gay. “Falei no palanque: eu não tenho que esconder com quem vivo e quem eu amo. Se esconder não mereço ser prefeito de vocês.” Ele conta que na campanha foi vítima de ataques homofóbicos. “Falavam que a prefeitura seria transformada em boate gay, coisas assim.”
Uma semana antes da eleição, os adversários distribuíram uma foto dele com Alex encostado em seu ombro e a frase: “Se votar no 45, essa família vai governar a sua”. Conforme Edgar, o efeito foi contrário. “Muita gente passou para nosso lado, tanto que a gente tinha 42% e fomos eleitos com 53%. A cidade rejeitou a homofobia.” Na campanha para a reeleição em 2016, Edgar não enfrentou o mesmo problema. “A população já conhecia e aprovava o meu trabalho. Na região, 90% dos prefeitos não se reelegeram, mas fui eleito enfrentando três candidatos.”
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