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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

GOVERNO BOLSONARO VETA MÉDICO QUE CRITICOU CLOROQUINA COMO CHEFE DE PROGRAMA DE IMUNIZAÇÃO

Pediatra que defende vacinação de adolescentes foi indicado pela Saúde, mas barrado pela Casa Civil

O pediatra Ricardo Queiroz Gurgel não irá assumir a coordenação do PNI (Programa Nacional de Imunizações). Ele foi nomeado para o cargo em 6 de outubro, mas não chegou a tomar posse.

Segundo Gurgel, ele decidiu ir para Brasília nesta quinta-feira (28) para entender por que ainda não havia sido chamado para assumir a pasta que está sem comando há quase quatro meses. Ao chegar ao Ministério da Saúde, soube que estava fora dos planos do governo.

"Eu queria uma definição se eu iria assumir ou não porque tenho vida para assumir, sou pesquisador e professor. Imagino que não foi problema no meu currículo, mas não sei o motivo de não assumir. Isso só o ministro pode dizer", disse.

Ricardo Queiroz Gurgel, professor do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da UFS, foi indicado pelo Ministério da Saúde para coordenar o Programa Nacional de Imunizações (PNI)

Ricardo Queiroz Gurgel, professor do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da UFS, foi indicado pelo Ministério da Saúde para coordenar o Programa Nacional de Imunizações (PNI) - Schirlene Reis/ Ascom UFS

O pediatra levanta bandeiras opostas às do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista à Folha, o médico afirmou ser favorável à vacinação de crianças e adolescentes, criticou fake news sobre a campanha de imunização e disse que está "suficientemente comprovado" que medicamentos do "kit Covid" não têm eficácia.

Gurgel afirma ainda que teve apenas uma conversa com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, quando foi convidado ao cargo no PNI. O ministro, disse Gurgel, não voltou a telefonar após a nomeação.

O médico disse ainda que foi recebido no Ministério da Saúde nesta quinta por um subordinado do secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros. Este funcionário teria informado que não há chances de Gurgel virar chefe do PNI, mas sem entrar em detalhes.

O pediatra iria assumir o cargo no lugar de Francieli Fontana, enfermeira e servidora da Saúde que pediu demissão no fim de junho. Ela disse à Folha, ao deixar o PNI, que falas de Bolsonaro dificultam a campanha de imunização.

Apoiadores do presidente moveram campanha nas redes sociais contra a nomeação de Gurgel ao PNI. Argumentaram que ele e sua esposa, que fez publicações críticas ao governo Bolsonaro na internet, não estavam alinhados com o presidente.

As queixas chegaram ao Planalto. A equipe de Queiroga foi informada que a Casa Civil barrou a ida de Gurgel ao cargo.

O pediatra afirma que se desvinculou da Universidade Federal de Sergipe para assumir o comando do PNI, mas nem sequer recebeu instruções do ministério sobre como assumir o cargo, montar equipe ou acessar o email funcional.

Ele disse que não sabe se receberá salário pelo período em que esteve nomeado no governo Bolsonaro. Declarou também que pediu para ser imediatamente exonerado.

Gurgel não é o primeiro escolhido de Queiroga que é derrubado por se opor a pautas negacionistas. A médica Luana Araújo, anunciada em maio para o cargo de secretária de Enfrentamento da Covid-19 do Ministério da Saúde, foi dispensada dez dias depois.

Fonte: Folha de SP

Foto: Shirlene Reis

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