O site da revista semanal L’Express traz um perfil de Augusto Aras, “o procurador que protege Jair Bolsonaro”, assinala a manchete da reportagem.
Apesar das graves acusações por má gestão da pandemia de Covid-19, o presidente brasileiro conta com um aliado precioso, explica a publicação, na figura do procurador-geral da República.
Augusto Aras é a única pessoa que pode incriminar Bolsonaro, mas paradoxalmente é seu principal escudo de defesa, mesmo tendo o dever de fiscalizar as ações do presidente, explica a revista francesa. Os nove crimes apontados contra Bolsonaro no relatório final da CPI da Covid-19 teoricamente poderiam render de 20 a 40 anos de prisão para o chefe de Estado de extrema direita. Mas, na prática, Bolsonaro pode contar com Aras.
A L’Express conta a forma enviezada como ele assumiu a Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2019, órgão responsável por fiscalizar as ações dos três poderes. Bolsonaro desprezou uma regra não escrita, instituída pelo ex-presidente Lula desde 2003, que permitia ao Ministério Público apresentar uma lista tríplice com nomes indicados pelos pares. Mas, grosseiramente, Bolsonaro desprezou essa regra dizendo que não queria um ambientalista radical no cargo, que não o deixaria construir estradas, nem “um sujeito que fosse defender as teorias de gênero”.
No início, os bolsonaristas ficaram reticentes com a escolha, acreditando que Aras era de esquerda, relata a L’Express. Afinal, para conseguir a aprovação do Senado, ele disse que não acreditava em “cura gay” e discordava da ideia de que uma família só podia ser composta por um casal heterossexual, temas que agradam os evangélicos, fiéis apoiadores do presidente.
Dois anos depois de assumir suas funções, a gestão de Aras na PGR é alvo de várias denúncias de alinhamento aos interesses do governo. A advogada Juliana Vieira dos Santos, integrante da Comissão Arns, aponta na reportagem que Aras “despreza descaradamente sua missão, mesmo quando (o Brasil) enfrenta uma erosão institucional sem precedentes com Bolsonaro”.
A ambição política do procurador de 63 anos é ser nomeado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, lembra a publicação francesa.
Cinismo político
O relatório bem documentado da CPI, segundo juristas, coloca Aras contra a parede. Mas parece que ele já encontrou a fórmula para continuar protegendo Bolsonaro, suspeita a revista. Para ser fiel à lei, afirma o fiel escudeiro de Bolsonaro, seria necessário provar que o chefe de Estado causou a epidemia no Brasil. Ter agravado não seria motivo suficiente de acusação.
Mesmo se Aras decidisse indiciar Bolsonaro, o levantamento da imunidade presidencial dependeria do Congresso, e “o presidente conta com os aliados do Centrão, um grupo de partidos clientelistas”, explica a revista francesa, “sempre disposto a rentabilizar o seu apoio aos governos no poder na condição de exercer influência sobre as verbas do Orçamento da União”. Resta a justiça internacional.
Fonte: GGN
Foto: GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.