Por mais que oficialmente ele negasse, sabia-se que o PT havia abandonado a presidente Dilma Rousseff desde que se convencera da impossibilidade da volta dela.
Foi na segunda quinzena de abril último quando a Câmara dos Deputados aprovou a instauração do processo de impeachment.
De lá para cá, o PT se convenceu também da inconveniência de um eventual retorno. Melhor para o partido e para Lula desligarem-se rapidamente da herança maldita de Dilma, e dela por tabela, passando à oposição ao governo Michel Temer, e dedicando-se a colher aqui e ali as vitórias possíveis nas eleições de outubro.
Mas faltava emitir um sinal forte de que para o partido, Dilma já era. Não falta mais. Após reunião, ontem, da Executiva Nacional do PT, Rui Falcão, seu presidente, afirmou que não vê viabilidade alguma na proposta de um plebiscito sobre novas eleições que Dilma defenderá em carta a ser enviada por ela aos senadores.
Falcão demoliu a proposta com um pronunciamento curto e direto:
- Em primeiro lugar, a presidente tem que pedir autorização para realizar plebiscito. Em segundo, para antecipar eleição, teria que saber se é clausula pétrea (da Constituição) ou não. O Supremo tem que se pronunciar sobre isso. Caso não seja clausula pétrea, precisa de emenda constitucional, que requer duas votações na Câmara e no Senado com dois terços aprovando isso. Em terceiro, caso aprove a antecipação, a eleição só poderia se realizar logo após essa decisão. O que significaria que as novas eleições se realizariam em 2018, na melhor das hipóteses. Não vejo nenhuma viabilidade para esse tipo de proposta.
A ideia de plebiscito para antecipar a eleição presidencial de 2018 esbarraria em outro obstáculo que Falcão esqueceu: o desejo de mais de dois terços dos brasileiros de ver Dilma pelas costas, já. Se os senadores aderissem à proposta dela, Dilma reassumiria o cargo e nele ficaria até a eleição do seu sucessor. Quem quer isso? Nem o PT.
Dilma jamais foi PT, que por sua vez nunca se sentiu confortável ao lado dela. Lula a escolheu porque detesta quem possa lhe fazer sombra. Imaginava voltar à presidência da República em 2014. Dilma não lhe fez sombra, mas não abriu mão de concorrer à reeleição. Ganhou. Para começar a perder no dia seguinte.
Fonte: Ricardo Noblat - O Globo
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