Pressionado por denúncias de corrupção, tráfico de influência e desvio ético, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, pediu demissão ontem. Foi o quarto ministro da presidenta Dilma Rousseff a cair num prazo de dois meses e dez dias. Três deles, na esteira de denúncias de enriquecimento suspeito e corrupção - Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e o próprio Rossi. O outro foi Nelson Jobim (Defesa), afastado por continuamente falar mal de colegas ministros.
Rossi, um afilhado do vice-presidente Michel Temer (PMDB), havia sido blindado no cargo em troca de uma faxina nos postos abaixo, quase todos ocupados por protegidos seus ou parentes de políticos amigos. Nem assim, no entanto, ele conseguiu se manter
Na carta de demissão, Rossi reclamou de ataques à sua família e atribuiu as denúncias à disputa política. "Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares. Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seu desígnios", escreveu.
O empurrão final para que o ministro da Agricultura tomasse o caminho de volta para casa foi dado nos últimos dois dias, com a notícia, publicada no "Correio Braziliense" segundo a qual ele e familiares utilizavam um jatinho da empresa Ouro Fino, que tem negócios com o Ministério da Agricultura. Antes, reportagem da revista Veja mostrara um lobista amigo da cúpula da Pasta atuando nas licitações do ministério.
Ao ser questionado se o favorzinho não era antiético, Rossi disse que não. Mas o caso dele se enquadra, sim, no Código de Ética e Conduta dos Servidores Públicos. De acordo com informações de bastidores do Palácio do Planalto, o vice Michel Temer entendeu que não dava mais para segurar o afilhado, amigo de 30 anos e ex-cunhado. A saída de Rossi, em meio a tantas denúncias, já vinha sendo entendida pelos peemedebistas como fato consumado.
Rossi estava no governo desde 2007. Primeiro, com a ajuda de Temer, que é presidente licenciado do PMDB, assumiu a presidência da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab). Em abril de 2010, substituiu Reinhold Stephanes no Ministério da Agricultura. O titular afastou-se para buscar a reeleição de deputado federal pelo Paraná. Em dezembro a presidenta Dilma Rousseff atendeu a pedido de seu vice eleito e confirmou a permanência de Rossi à frente da Agricultura.
Os problemas ocorridos na pasta, no entanto, vinham paralisando um dos setores mais importantes do País, num momento de crise mundial. Desse modo, em vez de tratar de formas de enfrentar o gargalo dos portos para a exportação de commodities, e de buscar novas formas de produzir mais alimentos - um tema urgente na agenda brasileira - o Ministério da Agricultura viu-se envolvido num debate sem fim sobre corrupção, tráfico de influência, empreguismo e desvios éticos.
Na carta encaminhada à presidenta Dilma Rousseff, em que pediu demissão, Wagner Rossi se disse inocente de todas as denúncias que são feitas contra ele. Procurou defender sua imagem, dizendo que conseguiu "importantes conquistas" para o setor. Elogiou ainda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff.
Entre os pontos que enumerou como de realizações suas, Rossi citou um acordo que garantiu preço mínimo para os citricultores, a construção de um consenso na cadeia produtiva do café, novos financiamentos para a pecuária, recuperação de pastagens, aquisição e retenção de matrizes e para renovação de canaviais.
Ele disse ainda que aumentou o volume de financiamento agrícola, os limites por produtor e a proteção ao médio agricultor. Afirmou que implantou o programa Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC), primeiro programa mundial que combina o aumento de produção de alimentos a preservação do meio ambiente, numa antecipação do que será a agricultura do futuro.
No entanto, segundo Wagner Rossi, nos últimos 30 das enfrentou diariamente uma saraivada de acusações, que considerou falsas. "Sem qualquer prova, nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública".
Disse que respondeu a cada acusação, "com documentos comprobatórios que a imprensa solenemente ignorou. Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas. As provas exibidas de sua falsidade nem sequer eram lembradas."
"Usaram para me acusar, sem qualquer prova, pessoas a quem tive de afastar de suas funções por atos irregulares ou insinuações de que tinham atuado com interesses menos republicanos nas funções ocupadas", afirmou ele, numa referência ao ex-diretor financeiro da Conab Oscar Jucá Neto, e o ex-chefe de licitações do Ministério da Agricultura, Israel Leonardo Batista. Os dois acusaram Rossi de corrupção.
Fonte: Agência Estado
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