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domingo, 2 de maio de 2021

GOVERNO PASSA POR "PROCESSO DE MILICIANIZAÇÃO', DIZ ESPECIALISTA EM VIOLÊNCIA

"Precisamos votar em 2022 em alguém que não seja assumidamente criminoso", avalia Bruno Paes Manso.

Bruno Paes Manso é pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP e afirma que a descredibilização das polícias, a fragilização das fiscalizações e o incentivo ao armamento são políticas públicas que favorecem a atuação das milícias.

O Brasil hoje é pauta mundial. Seja pela política sanitária, ambiental ou de segurança publica, as ações do governo federal nunca estiveram em tanta evidência. 

Excludente de ilicitude, desmonte de estruturas fiscalizatórias e decretos de flexibilização da compra, posse e porte de  armas de fogo são apenas algumas das principais bandeiras do governo federal .

O Portal iG conversou com o pós-doutor e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Bruno Paes Manso, para compreender a situação da segurança pública no país. Bruno é autor de livros como 'O Homem X', que conta a história de um assassino de aluguel em São Paulo; 'A Guerra', que fala sobre a ascensão do PCC no mundo do crime; e 'A República das Milícias', onde trata dos esquadrões da morte e da era Bolsonaro.

Em uma de suas avaliações, Bruno questiona a articulação do governo em busca da flexibilização das políticas de desarmamento . "Se você é um atirador e treina tiros, você precisa mesmo dessa quantidade exorbitante de armas de fogo e munições ou tem uma malandragem, uma má-fé para permitir que esse arsenal seja repassado para o crime?"

Bruno, como pesquisador da área de segurança pública, você considera que o Brasil piorou no combate ao crime organizado?

Olha, eu não diria que piorou, mas é um dos grandes desafios permanentes. A gente imaginava que durante a redemocratização esse processo iria se reverter com o fortalecimento das instituições. A modernização e maior controle das polícias, a punição de grupos de extermínio, a própria crença numa capacidade de se fazer justiça de outra maneira - mais inteligente e garantindo direitos - e com ação preventiva. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu e continuamos com um cenário de medo na cidade.

Neste período, as polícias passaram a atuar no modelo da época da ditadura militar, com patrulhamentos ostensivos, a partir da criação das polícias militares. Isso foi se transformando durante a democracia com o crescimento das periferias, bairros vistos como perigosos pela população e pelas próprias autoridades, que passaram a promover uma guerra contra certos grupos e produzindo uma série de efeitos colaterais.

Isso não contribuiu para a redução do crime. Pelo contrário, acabou por produzir outros cenários como a comercialização das drogas e outras possibilidades de atividades criminosas. Isso se intensificou.

Então a gente chega em 2018 com [Jair] Bolsonaro fortalecendo esse discurso, aproveitando esse medo que vigorava nas cidades, juntamente a crise política de 2018 envolvendo Lava Jato, para ressucitar um discurso de guerra e de uso de violência, que entra para a política com toda força.

Do ponto de vista político, isso é muito emblemático. Além desse discurso da guerra e do extermínio dos inimigos - no caso dos bandidos na segurança pública. Além dessa narrativa que veio e continuou com as polícias durante toda a Nova República, você tem um fato novo que é este discurso ser levado para a política.

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Fonte: Eduardo Morgado/Último Segundo

Foto: Reprodução

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