O preço dos alimentos tem dinâmica própria, influenciado por oferta e demanda, clima, safra, cotações internacionais
Não há popularidade que resista à inflação, sobretudo de alimentos. Por ironia, o maior problema com a inflação são as carnes, que sumiram das geladeiras da maioria dos brasileiros, porque o preço das proteínas está proibitivo: por exemplo, a picanha fatiada para churrasco custa R$ 54. O acém moído, a carne que mais rende na mesa, custa em torno de R$ 19. A primeira proteína bovina que entra na casa do pobre é processada: a salsicha, que custa em torno de R$ 13. Nas gôndolas, o quilo do frango inteiro ou de pernil suíno picado (com osso) está R$ 9, o mesmo preço do pé de galinha e da orelha de porco.
Para o falecido historiador francês Pierre Chaunu, especialista em estudos sobre a América espanhola, uma das causas de os chineses não terem conquistado as Américas antes de espanhóis e portugueses foi a falta de proteína animal (“Expansão europeia do século 13 ao 15”, da Editora Pioneira). A China era a maior potência econômica da época e dispunha de uma grande força naval, com tecnologia e conhecimentos de navegação para atravessar todos os mares.
O ex-comandante da Marinha britânica Gavin Menzies (“O ano que a China descobriu o mundo”, Editora Bertrand) revelou que os chineses, liderados pelo grande navegador eunuco muçulmano Zheng He, haviam navegado da África até a foz do Rio Orenoco, na atual Venezuela. Depois, desceram a costa do continente até o Estreito de Magalhães, ao sul da América do Sul, ainda no ano de 142. Ou seja, 71 anos antes de Cristóvão Colombo. A expansão chinesa foi contida pela decadência da dinastia Ming, sob crescente ameaça do líder mongol Altã Cã (r. 1470-1582), que invadiu a China e dominou grande parte do território, até os arredores de Pequim.
Devido à grande densidade demográfica, resolver o problema alimentar, principalmente a escassez de proteína animal, sempre foi a chave da estabilidade dos governos chineses. Foi a necessidade chinesa de importação de proteína animal que fez o Brasil se tornar o segundo produtor mundial de carnes, com 11,9 milhões de toneladas (19,5% da produção mundial). O primeiro são os Estados Unidos (12,3 milhões, 20%) e o terceiro, a própria China (7,8 milhões/ 12,7%), hoje o nosso maior parceiro comercial.
Fonte: Luiz Calos Azedo/Estado de Minas
Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
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