Não faz nem três meses que PSL e DEM formalizaram acordo para se juntar e o União Brasil, ainda em formação, já enfrenta sua primeira ameaça de rebelião interna.
O motivo é o destino da nova legenda em 2022. O União Brasil negocia o apoio a Sergio Moro empurrado pelo PSL, que manda muito mais do que o DEM. Mas os antigos Democratas não estão nada empolgados com a possível aliança.
O descontentamento ficou claro no jantar de confraternização de fim de ano do DEM, na semana passada em Brasília. Enquanto o DJ comandava a pista em um restaurante à beira do Lago Paranoá, os papos nas rodinhas eram cheios de reclamações.
"Você acha que alguém já chamou a bancada para conversar, para explicar como vai ser esse União Brasil? Nunca", queixou-se um dos parlamentares do partido no dia seguinte. "Até hoje, tudo o que ficamos sabendo sobre essa fusão ou é pela imprensa ou é pelos colegas do PSL, que vêm contar pra gente", disse outro. "Já contei dez falando que pensam em sair do DEM".
O arranjo negociado entre o presidente do DEM, ACM Neto, e o do PSL, Luciano Bivar, na prática dá ao ex-partido de Bolsonaro o comando da nova agremiação. O PSL ficou com a presidência do União Brasil e também com a diretoria financeira, que administra a divisão do fundo eleitoral.
Além disso, o estatuto da nova legenda prevê que as decisões colegiadas, levadas à vice-presidência ou à executiva nacional, têm de ser aprovadas por três quintos. Só que metade dos membros dessas instâncias são indicados pelo PSL e têm relação pessoal ou de negócios com Bivar.
Bivar está avançando na negociação com o Podemos de Sérgio Moro para formar uma chapa em que o União Brasil indicaria o vice. O assunto foi discutido na semana passada entre as cúpulas das duas agremiações, em Brasília.
Mas a aliança enfrenta muita resistência. Parlamentares e pré-candidatos do DEM preferem que o partido fique solto para que cada diretório estadual escolha se vai com Moro, com Jair Bolsonaro ou até com Lula, a depender das costuras locais e do desempenho deles nas pesqsuisas.
Outros já planejam debandar para o PL de Bolsonaro ou para outras siglas para não ter que depender de Bivar, já que ACM Neto tem dito internamente que está focado na eleição ao governo da Bahia.
Um exemplo de local onde já se arma uma confusão é o Rio de Janeiro. O deputado federal Sóstenes Cavalcante, que era cotado para comandar o DEM no estado em 2022, já avisou que não vai obedecer aos comandos do prefeito de Belford Roxo, Waguinho, indicado por Bivar presidente do União Brasil no Rio.
Sóstenes, que é pastor evangélico e teve 94 mil votos para deputado em 2018, também não pretende formar chapa com o clã Garotinho, que se filiou ao PSL em julho, nem com Danielle Cunha (a filha de Eduardo Cunha), que também negocia entrar no União Brasil.
O deputado trabalha para que Rodrigo Maia, que diz ter acertado os ponteiros com ACM Neto, comande o diretório fluminense do novo partido. Caso não consiga, ele deve trocar o DEM pelo PL ou pelo PP.
Além disso, o próprio Waguinho se reuniu no mês passado com o governador Cláudio Castro (PL) e prometeu o apoio do União Brasil à reeleição. Com a ida de Bolsonaro para o mesmo partido de Castro, ambos devem pedir votos juntos, o que tornaria difícil oferecer palanque também a Moro.
Em São Paulo, o imbróglio mais significativo envolve o vereador Milton Leite e seu filho Alexandre Leite, deputado federal, que comandam o DEM no estado. Eles disputam com o PSL a direção do União Brasil paulista, já prometida a Antonio Rueda, braço direito de Bivar.
Na semana passada, a nova legenda decidiu por apoiar Rodrigo Garcia (PSDB) para governador. Só que Garcia é aliado de João Doria. Com isso, é dado como bastante provável que políticos do MBL que estão hoje no DEM, como o deputado federal Kim Kataguiri, deixem a sigla para seguir com Moro.
Mas há problemas em outras frentes. O senador Marcos Rogério (DEM-RO), já avisou que quer se filiar ao PL e formalizar o apoio a Bolsonaro em uma possível campanha ao governo de Rondônia.
O deputado Luís Miranda (DEM-DF), que se notabilizou na CPI da Covid ao denunciar a corrupção na tentativa de comprar a vacina indiana da Covaxin, quer mudar de domicílio eleitoral de Brasília para São Paulo, o que gera ciúmes no diretório paulista. Por isso, negocia em paralelo o passe com o Republicanos.
Procurado pela equipe da coluna, ACM Neto não respondeu às mensagens, nem atendeu ao telefone.
Fonte: Malu Gaspar
Foto: Arquivo o Globo
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