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terça-feira, 30 de novembro de 2021

PAI É INOCENTADO APÓS PASSAR DOIS ANOS PRESO ACUSADO DE MATAR O FILHO DE OITO MESES

Dorgival Junior foi inocentado pelo tribunal do júri, em Petrolina, depois que perícia particular provou que o bebê morreu após se asfixiar no próprio vômito.

Durante dois anos e 21 dias, o ajudante de obras Dorgival José da Silva Junior, de 24 anos, ficou preso acusado de matar o filho, um bebê de apenas oito meses. A criança morreu em outubro de 2019, na casa onde morava com os pais e o irmão gêmeo, no bairro Nova Vida 1, em Petrolina, Sertão de Pernambuco.

Na última quinta-feira (25), depois de 12 horas de julgamento no fórum da cidade, a defesa de Dorgival conseguiu provar a inocência dele — a criança, segundo perícia particular pedida pela família, morreu asfixiada pelo próprio vômito. A decisão trouxe alívio para o coração da professora Maria Luzinete Gomes, mãe de Dorgival e avó dos gêmeos.

No dia seguinte ao veredito, Dona Luzinete, que sempre acreditou na inocência do filho, estava na porta do presídio Doutor Edvaldo Gomes para recebê-lo depois de 751 dias. Eles se abraçaram, sem grades ao redor e com o sentimento de que a justiça tinha sido feita. Veja no vídeo acima.

A retomada da liberdade começou com o pagamento de uma promessa feita por eles. Mãe e filho caminharam por 25 km, durante quase 7 horas, do presídio até a casa de Dona Luzinete, que fica no N1, zona rural de Petrolina.
“As pessoas diziam: ‘você com essa idade, vai a pé, 25 km?’. Eu dizia que isso era pouco. Ruim foi dois anos de espera. Seis horas, sete horas a pé, 25 km, não é nada”, diz Maria Luzinete.

Recomeço
De acordo com o advogado Marcílio Rubens, pelo fato de a absolvição de Dorgival também ter sido solicitada pelo Ministério Público, a tendência é que não haja recurso. Livre das acusações, o pai só pensa em recomeçar a vida. Dorgival disse que, quando soube que seria libertado, só teve um pensamento.

Religiosa, Maria Luzinete fez do terço seu companheiro fiel durante os dias de prisão do filho. As idas ao presídio eram constantes, mesmo durante a pandemia, quando a entrada de visitantes foi proibida. Foi guiada pelo amor aos filhos, que ela nunca desistiu de lutar por justiça. Agora, a mãe espera que Dorgival consiga recomeçar.

“Espero que alguém possa dar oportunidade ao meu filho e veja ele como cidadão de bem, que ajude ele a arranjar um emprego. Ele tem uma criança para criar”, afirmou.

O sacrifício para provar a inocência de Dorgival, segundo o advogado, custou cerca de R$ 50 mil à família. O dinheiro foi investido na elaboração da perícia complementar e na busca por outras provas. Apesar das dívidas, a mãe não se arrepende. “O mais difícil de tudo foi a ausência dele”.

Ainda de acordo com Marcílio Rubens, com a inocência de Dorgival confirmada, a família pode entrar com ações indenizatórias contra o Estado e os meios de comunicação que publicaram notícias falsas sobre o caso.

“A retratação social, ainda que ela se dê em parte, dificilmente se dará no todo, pela dificuldade de você atingir as mesmas pessoas que tiveram a notícia [de que Dorgival cometeu crime] inicialmente. O que se busca é reconstituir, minimamente, a dignidade dessa família, trazer de volta aquilo que foi perdido, em parte, porque nada devolverá a Dorgival a perda do convívio com filho sobrevivente durante esses dois anos e 14 dias, a vida que ele perdeu de construir”, disse o advogado.

“O que a gente espera é uma reparação mínima. Erros dessa natureza devem servir como exemplo para que não se cometa novos erros, para que não se precipite o julgamento em relação às pessoas antes da maturação efetiva dos fatos”, concluiu.

Fonte: G1
Foto: Emerson Rocha

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