Entidades preparam ato com lavagem simbólica da rampa do Congresso para protestar contra provável retorno do peemedebista ao comando do Senado, de onde foi varrido por uma série de denúncias em 2007.
Ex-juiz da Suprema Corte dos EUA, Louis Brandeis costumava dizer que “a luz do sol é o melhor desinfetante”. A frase ficou conhecida no Brasil especialmente durante o julgamento do mensalão, quando integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), como Ricardo Lewandowski e o ex-ministro Carlos Ayres Britto, recorreram a ela para tratar do caso. A luz, porém, não será o único desinfetante a passar pela rampa do Congresso amanhã (30). A partir das 15h, o local será lavado, com vassouras verdes e amarelas e muito sabão, como uma forma de protesto contra a provável recondução de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado, seis anos depois de ele ter deixado o comando da Casa varrido por uma série de denúncias. Motivadas por mais de 16 mil assinaturas virtuais de um abaixo-assinado, entidades e associações da sociedade civil decidiram se manifestar contra a escolha do peemedebista para o cargo. Retirado da posição em 2007 sob suspeitas, Renan é apontado como favorito para presidir a Casa pelos próximos dois anos. A eleição está marcada para esta sexta-feira (1º).
A manifestação é organizada por uma série de entidades. O Congresso em Foco é uma delas. O objetivo é pressionar os senadores a eleger um presidente que não tenha problemas com a Justiça – o que não é o caso de Renan. Apesar de não ter oficializado sua candidatura, o que deve ocorrer somente nos próximos dias, o atual líder do PMDB no Senado tem sido alvo de novas denúncias. No sábado, após este site revelar que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao STF que o transforme em réu de uma ação penal, ele admitiu, pela primeira vez, que será candidato.
Para Jovita José Rosa, coordenadora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e presidenta do Instituto Finanças e Controle (IFC), a eleição de candidatos com o passado problemático vai na contramão do que o próprio Congresso decidiu e do que a sociedade deseja. “Nós queremos ficha limpa para todos os cargos, inclusive para presidente da Câmara e do Senado”, afirmou. O MCCE é o grupo que reuniu as assinaturas necessárias para a apresentação no Congresso do projeto que resultou na criação da Lei da Ficha Limpa, idealizada pelo próprio movimento.
No sábado, o Congresso em Foco mostrou que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou o peemedebista no caso das notas dos “bois de Alagoas”, derivado das suspeitas de ter despesas particulares pagas por um lobista de empreiteira. Entre essas despesas, estavam a pensão e o aluguel de um apartamento para a jornalista Mônica Veloso, com quem o senador tem uma filha. O inquérito que investiga Renan está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski.
“Graves denúncias pesam sobre a vida política de Renan e é inaceitável que ele retome um dos mais altos postos da República antes que tudo seja esclarecido. O Senado não pode continuar sendo dirigido por representantes de oligarquias políticas atrasadas e cruéis, que se apropriam em benefício próprio da riqueza do país e do fruto do trabalho do povo”, diz a petição.
No início da manhã, os manifestantes vão decorar as áreas próximas ao Congresso com vassouras, baldes e produtos de limpeza. Depois, às 15h, começa o ato de lavagem da rampa. Também está previsto para amanhã o anúncio da candidatura de Renan. “Fazemos um apelo aos senhores senadores para que escolham um presidente ficha-limpa, comprometido com o desenvolvimento social e que seja capaz de dirigir o Senado com independência e dignidade”, completa o texto.
Fazem parte também do grupo de entidades, além do Congresso em Foco, o Rio de Paz, o Movimento 31 de Julho, o Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), o Nas Ruas, a Voz do Cidadão, o Queremos Ética na Política, o Revoltados On Line, Renovadores UDF, OCC Alerta Brasil, a Ong Moral, a Associação Diamantina Viva, a Juventude Consciente, a Erga Omnes, o Comitê Ficha Limpa DF, o Instituto Soma Brasil, o Instituto Atuação, o Amarribo e a Associação Contas Abertas.
Em 2010, para pressionar o Congresso a aprovar a Lei da Ficha Limpa, manifestantes e integrantes do Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral, coletivo formado por mais de 40 entidades, também fizeram uma lavagem simbólica da rampa da Casa. Na época, funcionou.
Fonte: Mário Coelho/Congresso em Foco
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