Responsável por assinar parecer do CFM que liberou médicos a prescreverem cloroquina, Mauro Ribeiro está na lista de indiciados pela comissão parlamentar de inquérito no Senado
Na lista de indiciados pela CPI da Covid no Senado pelo crime de epidemia com resultado de morte, o médico Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), rebate as críticas contra a sua atuação à frente do órgão durante a pandemia. Segundo ele, a instituição não tem vieses "ideológicos, políticos e partidários". Alvo de críticas, Ribeiro afirma que as decisões do CFM foram tomadas para defender a autonomia do profissional de saúde.
O senhor foi indiciado pela CPI da Covid. Como responde às acusações?
Mantenho firmes minhas convicções em favor da autonomia do médico e do paciente, princípio milenar hipocrático que é pilar da prática da medicina, o qual foi subjugado pela CPI e deve ser defendido, hoje e sempre, sob qualquer circunstância.A narrativa falaciosa adotada pela CPI da pandemia ao longo de sua existência ficou evidente em seu relatório final, transformando o resultado da comissão num palco midiático para projeções políticas e ideológicas. Desde o início dos trabalhos da CPI, reitero, me coloquei à disposição para esclarecer todas as dúvidas dos parlamentares. No entanto, oportunamente, os membros da CPI optaram por calar os médicos brasileiros, ignorando o nosso apelo. Ressalto que, como parte do Estado, nossa instituição não possui vínculos ideológicos, políticos e partidários.
A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS) deliberou sobre o parecer que rejeitava o uso do kit Covid, comprovadamente ineficaz contra a doença. Além do governo, só o CFM votou contra. Por quê?
O voto é coerente com o que CFM defende em relação à autonomia do médico. Os debates e a votação em torno do relatório da Conitec não se reduziram à aprovação ou desaprovação de uma abordagem terapêutica, mas à avaliação do conjunto das evidências científicas sobre o tema que foi apresentado àquela comissão. O parecer apresentado e submetido à votação dos membros da Conitec foi elaborado a partir de critérios adotados internacionalmente, podendo ser considerado uma nota técnica com relevantes informações sobre o tema. No entanto, com base nas características das evidências científicas e análises estatísticas apresentadas, entendeu-se que o documento carecia de uma maior objetividade e clareza, aspectos fundamentais para orientar a decisão clínica.
Por que o CFM não reviu seu parecer sobre a prescrição da cloroquina?
O CFM reitera que não apoia e nunca recomendou o uso de qualquer droga para o tratamento de pacientes com Covid-19. Por meio de seu Parecer 4/20, o CFM se manifesta em favor do respeito à autonomia médica durante o período de pandemia. O CFM entende que o médico, na ponta, e o paciente, mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, devem ter a autonomia para, de forma conjunta, definirem qual a melhor opção terapêutica para tratar casos diagnosticados, observando a evolução do conhecimento.
Médicos têm visto com maus olhos a atuação do CFM por considerarem que são decisões contrárias à ciência. Como você avalia as críticas?
Não concordamos. Nossa prática diária mostra o contrário. Temos recebido centenas de milhares de manifestações de médicos e de entidades com apoio à postura adotada pelo CFM em defesa da autonomia médica. Essa solidariedade não se limita a grupos e lideranças.Recentemente, pesquisa realizada pelo Instituto Checon mostrou que a ampla maioria dos médicos brasileiros concorda com a defesa que o CFM faz da autonomia para que, juntamente com seu paciente, o profissional possa decidir qual o tratamento a ser usado na fase inicial da Covid-19. Essa é a posição de 86% de mais de 1,5 mil entrevistados. Além dos médicos, a população brasileira também se mostrou solidária a esse entendimento. O levantamento apontou que 82% apoiam e defendem a autonomia médica.
Fonte: O Globo
Foto: Agência Senado
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