RNPOLITICAEMDIA2012.BLOGSPOT.COM

domingo, 28 de fevereiro de 2021

A ATIVIDADE PÍFIA DOS DEPUTADOS QUE LEVANTARAM A BANDEIRA DA RENOVAÇÃO

Embora tenha apresentado nada menos que 4 350 projetos, esse grupo de parlamentares conseguiu aprovar apenas quatro de autoria exclusiva 

Protagonista de um vídeo grotesco com ataques ao Supremo Tribunal Federal, entre outros crimes, e preso por isso desde o último dia 16 no Rio de Janeiro, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) conseguiu algo que pareceria improvável em outras situações: fazer com que os deputados deixassem o corporativismo de lado e mantivessem na cadeia um de seus pares por 364 votos a 130. Mesmo que em algum momento deixe a prisão, o parlamentar de muitos músculos e pouca razoabilidade ainda correrá o risco de cassação em um processo aberto no Conselho de Ética da Câmara na terça 23. O desempenho controverso, para dizer o mínimo, de Silveira, no entanto, não se limita ao seu comportamento fora da Câmara — e diante de uma câmera —, mas também ao que faz (ou deixa de fazer) dentro da Casa. Caso o seu mandato seja abreviado, não se poderá dizer que o país perdeu um grande legislador: após dois anos de mandato, nenhum dos 47 projetos de lei propostos pelo parlamentar ou que ele assinou como coautor viraram lei, tampouco algum dos seis projetos dos quais ele é ou foi relator. Ou seja, efetividade zero.

Mas o polêmico ex-cobrador de ônibus e ex-policial militar não está sozinho na turma do fiasco legislativo. Ele é um dos 108 que chegaram à Câmara em 2018 sem nunca terem ocupado qualquer outro cargo eletivo — nem de vereador —, naquele que foi o maior movimento de renovação na história da Casa. Como Silveira, no entanto, a grande maioria dos novatos que garimparam votos na onda da antipolítica alavancada pelo fenômeno Jair Bolsonaro não consegue fazer com que as suas ideias ganhem eco fora das bolhas das redes sociais, onde a maior parte deles construiu o seu eleitorado. E não é por falta de tentativa: embora tenha apresentado nada menos que 4 350 projetos, esse grupo conseguiu aprovar apenas quatro de autoria exclusiva, ou seja, sem incluir aqueles que eles assinaram em conjunto com outros parlamentares (confira no quadro abaixo). O discurso de que mudariam as práticas, empunhado na campanha eleitoral, se mostrou bem difícil em um ambiente que exige responsabilidade, enorme capacidade de articulação e — fundamental — deixar o celular de lado. “O Parlamento tem fila e quem está há mais tempo no Congresso já conhece todos os atalhos na burocracia”, observa o cientista político Carlos Melo, do Insper.



Fonte: João Pedroso de Campos/VEJA

Foto:  Beto Barata/Agência Senado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.