A disputa pela presidência do Senado, ninguém ignorava, era jogo jogado. O próprio azarão Pedro Taques (PDT-MT) abriu seu discurso assim: “É como um perdedor que ocupo hoje esta tribuna…” (veja acima). Porém, o triunfo de Renan Calheiros (PMDB-AL) –56 votos contra 18— foi vitaminado por pelo menos dez traições.
A votação foi secreta. O colegiado de 81 senadores, que já era pequeno, ficou ainda menor, já que três senadores faltaram à sessão. Dos 78 presentes, dois votaram em branco e dois anularam seus votos. Com apenas dois candidatos, a votação mixuruca de um deles facilitou a identificação dos ‘Cavalos de Tróia’.
Contados os votos, os partidários de Taques debruçaram-se sobre a lista de senadores. Os dados que serão mencionados a seguir resultam dessa avaliação informal. O PSDB, por exemplo, havia declarado apoio formal ao adversário de Renan. Prometera uma mercadoria que não tinha para entregar: a unidade.
Dos onze senadores tucanos, a turma dos independentes contabilizou apenas cinco: Alvaro Dias (PR), Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes Ferreira (SP), Cássio Cunha Lima (PB) e Paulo Bauer (SC). Os outros seis ciscaram para fora do ninho.
Um deles, Mário Couto (PA), avisara na véspera: “Não voto em promotor” (Taques é ex-procurador da República). Segundo as suspeitas do grupo independente, serviram-se da dissimulação os seguintes tucanos: Flexa Ribeiro (PA), Cyro Miranda (GO), Lucia Vânia (GO), Cícero Lucena (PB), Ruben Figueiró (MS).
À distância, atuaram na infantaria de Renan dois governadores do PSDB: Marconi Perilo, de Goiás; e Teotonio Vilela Filho, de Alagoas. Mercê das adesões oferecidas na sombra, o PSDB manteve o apoio do PMDB e Cia. para acomodar na Mesa a ser presidida por Renan o tucano Flexa. Ocupará a primeira secretaria, espécie de prefeitura do Senado.
Consumada a derrota de Taques, o presidenciável tucano Aécio Neves disse que “o PSDB tomou a posição correta”. Como assim? “O partido foi no caminho da preservação da instituição.”
Alheio às traições, Aécio acrescentou: “Não podemos ter o Poder Legislativo, em especial o Senado da República, sob questionamentos, seja do ponto de vista ético ou também da subordinação excessiva que temos tido em relação ao Poder Executivo. Por isso, optamos pela candidatura do senador Pedro Taques.”
O grupo anti-Renan identificou silvérios até no PDT, o partido de Taques. Dona de cinco votos, a legenda entregou no máximo três ao “seu” candidato: além do seu próprio voto, Taques obteve os de Cristovam Buarque (DF) e Acir Gurgacz (RO). Marcaram o nome de Renan na cédula João Durval (BA) e Zezé Perrela (MG).
Do PMDB, partido de Renan, estima-se que Taques tenha obtido apenas os votos dos de dois notórios dissidentes: Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Na avaliação do grupo, não se confirmou o voto de Ricardo Ferraço (ES), que insinuara preferência por Taques nos diálogos subterrâneos.
Dos quatro votos do DEM, suspeita-se que tenha descido ao cesto de Taques apenas o de José Agripino Maia, líder e presidente da legenda. Teriam optado por Renan: Maria do Carmos Alves (SE), Jayme Campos (MT) e Wilder Morais (GO), o suplente que virou titular após a cassação de Demóstenes Torres.
Conta daqui, calcula dali, os quatro votos do PSB do governador pernambucano Eduardo Campos foram escriturados como fieis ao compromisso assumido com Taques. Sõ eles: Lídice da Mata (BA), Rodrigo Rollemberg (DF), Antonio Carlos Valadares (SE) e João Capiberibe (AP).
Fechando-se as contas expostas acima, Taques amealhou cinco votos do PSDB, três do PDT, dois do PMDB, quatro do PSB e um do DEM. No total, 14. Se a lista do grupo dito “independente” estiver correta, completaram os 18 votos atribuídos ao rival de Renan os seguintes senadores: Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Ana Amélia (PP-RS) e Armando Monteiro (PTB-PE).
Fonte: Josias de Souza
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