O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), decidiu encerrar a sessão de depoimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) ontem após a recusa dele em falar aos integrantes da comissão e depois de um bate-boca entre parlamentares - um a favor e outro contrário ao direito de Demóstenes ficar calado (veja vídeo ao lado). Demóstenes é suspeito de ter utilizado o mandato para beneficiar os negócios do contraventor Carlinhos Cachoeira. Em depoimento no Conselho de Ética do Senado na terça, ele negou a acusação.
O senador do DEM chegou à CPI às 10h40 e logo afirmou que não responderia a perguntas e permaneceria em silêncio durante a sessão, usando a "faculdade prevista na Constituição Federal de permanecer calado".
Assim que Demóstenes manifestou a intenção de não falar, o deputado Silvio Costa (PTB-PE) começou a questionar a postura do colega, chamando-o, aos gritos, de "hipócrita" e "mentiroso". "Se o céu existir, o senhor não irá para o céu, porque o céu não é lugar de mentiroso. Não é lugar de gente hipócrita!", disse Costa.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) então pediu a palavra e repreendeu a atitude de Costa, defendendo o direito de Demóstenes ficar calado. "A Constituição diz que devemos tratar a todos com urbanidade. Não cabe a qualquer parlamentar expor o outro, mesmo em se tratando de CPI", afirmou.
Costa se irritou com o comentário de Taques e voltou a criticar Demóstenes. "Vou lhe chamar agora de ex-futuro senador porque esse seu silêncio... Você vai ter 80 votos a favor da sua cassação. Você é um hipócrita, você trabalhou contra o país, você é um demagogo!", bradou Costa.
Com a troca de ofensas, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), encerrou a sessão e autorizou Demóstenes Torres a deixar a sala. De pé e com dedo em riste, Costa disse a Taques: "Você é um merda!". O xingamento foi presenciado pelos integrantes da comissão e por jornalistas presentes à sessão.
Costa deixou a sala aos gritos e, em entrevista, criticou Taques. "Ele é metido a paladino da ética. Ele tem que assumir: foi defender Demóstenes. Ele é um dos defensores do Demóstenes. Ele hoje tirou a máscara", disse.
No mesmo momento, Taques foi cercado por colegas da CPI, que o defenderam. "Isso é um abuso de autoridade parlamentar. Nenhum cidadão pode ser humilhado", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). "Os líderes podem falar, mas tem que ser com elegância. Está errado o que o Silvio fez", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP).
Conselho pode usar dados da CPI
O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou ontem que vai usar informações da quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), na CPI do Cachoeira, para instruir o processo contra ele que corre no Conselho de Ética. A CPI do Cachoeira aprovou na quarta-feira a quebra dos sigilos de Demóstenes desde janeiro de 2002.
O conselho e a CPI investigam se o senador goiano usava seu mandato parlamentar em defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira. Demóstenes permaneceu em silêncio, ontem, em audiência na CPI, convocada para ouvi-lo. Relator do processo no Conselho de Ética, Costa disse que a decisão de usar o material no seu relatório não abrirá espaço para que os advogados de Demóstenes peçam mais prazo para a defesa. Isso porque o relator afirmou que não vai "atrás de coisas novas", vai apenas tentar analisar, com base nos sigilos, o que Demóstenes falou ao conselho na terça-feira.
Um exemplo da análise que o relator pretende fazer é quanto ao uso de aparelho de telefonia móvel que Demóstenes admitiu ter recebido de Cachoeira e cujas contas eram custeadas pelo contraventor. A quebra de sigilo telefônico do celular, na avaliação do relator, poderá comprovar se Demóstenes o utilizava para falar com várias pessoas, como disse ao conselho, ou apenas com o grupo comandado por Cachoeira.
"A quebra do sigilo telefônico vai comprovar se isso é verdade ou não. Se comprova que não é verdade, mostra que, de fato, ele só usava o telefone para se comunicar com algumas pessoas. Isso é algo fortemente suspeito. Além do que, isso representaria que ele não teria sido fiel à verdade no depoimento" , afirmou Costa
O relator disse que, se o cruzamento de dados mostrar que Demóstenes mentiu ao conselho, a conduta poderia ser enquadrada como quebra de decoro, passível de cassação.
Fonte: Tribuna do Norte
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