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segunda-feira, 3 de março de 2014

ENTRE O PODER E A VIDA.

Esta é a história de um político que trocou o Poder pelo Galo da Madrugada - e não se arrependeu.
Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho é o nome dele. Natural de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco, nasceu no dia 19 de junho de 1946. Quando foi anunciado como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, a revista VEJA perguntou: “Gustavo o quê?”
Era um desconhecido até então. Mas não só.
A pergunta feita por VEJA em reportagem de capa teve menos a ver com o Gustavo desconhecido e mais com o Gustavo nordestino.
Desconhecido ele não era. Advogado, especializado em Direito Tributário, havia sido prefeito do Recife, vice-governador de Pernambuco, governador, vereador e deputado federal – nessa ordem. Nordestino era de sobra. Orgulha-se de ser.
Entre ficar em Brasília fazendo política ou no Recife especulando sobre o próximo desfile do Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do planeta, Gustavo preferia ficar no Recife, ocupado também em conseguir reforços para seu time, o Náutico.
Isso não quer dizer que fosse um provinciano. Não é. Conhece bem o mundo. Só que seu mundo começa no Recife, assim como o meu. Assim como começava o mundo do pintor Cícero Dias.
Gustavo elegeu-se deputado federal pelo PFL em 1990. Um ano antes, Itamar fora eleito vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo aventureiro Fernando Collor.
O Congresso derrubou Collor no final de 1992 sob a acusação de que era corrupto. Ao escolher os que governariam com ele, Itamar fixou-se no nome de Gustavo para o ministério mais diretamente ligado aos interesses do Nordeste, o do Interior.
No dia 1º de outubro daquele ano, Gustavo foi ao encontro de Itamar esperando ser convidado para o Ministério do Interior. Saiu de lá como ministro da Fazenda, o todo poderoso chefão da economia.
Itamar era assim, surpreendente. Gustavo argumentou que o ministério da Fazenda sempre coubera a um porta-voz dos interesses do Sudeste e do Sul, onde se concentra a maior riqueza do país. Sem sucesso.
O mundo então desabou sobre as cabeças de Itamar e de Gustavo. Acostumados a mandar na economia, os paulistas, principalmente eles, pularam da cadeira diante da perspectiva de lidar com o desconhecido.
A VEJA pulou junto. Gustavo era a esfinge. O não aliado automático. O que provocava calafrios e ranger de dentes. Por Deus, como derrotá-lo?
Afinal, descobriram um modo: pau nele. Pau em Itamar. Coitado dos dois!
Itamar receava passar à História como “Itamar, O Breve”. Certa vez ouvira de um amigo: “Você não vai durar 48 horas”. Gustavo receava passar à História como “Gustavo, O Breve”.
O receio dos dois não se confirmou. Itamar passou como o presidente que deu certo. Gustavo, pelo conjunto de sua obra. Itamar já morreu. Gustavo está vivo, vivíssimo.
Gustavo resistiu à pancadaria da imprensa exatos 75 dias. No que seria seu último dia no coração do Poder, disse aos seus botões: “Chega! Optei pelo Galo”.
Não foi isso. Disse algo parecido com “optei pela vida”. Galo e vida são a mesma coisa.
Gustavo cumpriu o resto de mandato de deputado. Depois foi ministro do governo Fernando Henrique. E nunca mais voltou à Brasília como servidor público.
Este ano, só faltou ao desfile do Galo por causa de um tratamento dentário. Quanto ao Náutico... Vai mal.
Em tempo: o que quis dizer ao contar essa história? Sinceramente, nada. Só quis aproveitar o carnaval para contar uma história. Gosto de contar histórias.

Foto: Marcelo Lacerda

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