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domingo, 6 de janeiro de 2019

QUANDO A POLÍCIA ADOECE.

Epidemia dentro de quartéis e delegacias, as doenças mentais são gatilho para suicídio de responsáveis pela segurança pública.

Uma bala alojada na medula tirou não apenas o movimento das pernas mas também a vontade de viver do soldado reformado da Polícia Militar de São Paulo “PMSP” Júlio César da Silva. Há 15 anos, ao tentar evitar um assalto, ele entrou em confronto com bandidos. Foi baleado em sua última missão oficial como agente da lei, pois o dano irreversível na coluna o deixou dependente de cadeira de rodas para sempre.
O diagnóstico de paraplegia veio acompanhado de uma depressão profunda. Trancado em um quarto escuro, sem se alimentar adequadamente e dormindo somente à base de fortes remédios, ele tomou a decisão radical de se matar. Com a arma em punho apontada para a têmpora, cão acionado e dedo no gatilho, Júlio César desistiu ao lembrar da filha, à época com 1 ano e 8 meses.
“não gosto de recordar dessa passagem da minha vida. mas estou aqui para provar que é possível superar esse sofrimento terrível”, declara o praça. Ele, além de reformado na Pm paulista, dá expediente no almoxarifado de uma empresa de transporte.
Ao mergulhar em um estado de prostração que quase o levou ao autoflagelo, Júlio César ingressou nos quadros de uma tropa formada por milhares de policiais país afora que adoece silenciosamente. Tabu nas forças de segurança, a depressão nos quartéis e nas delegacias é mais associada à fragilidade do que tratada como doença.
Com vergonha de pedir ajuda muitos agentes, praças, oficiais e inspetores das mais diversas instituições ligadas ao braço armado do estado não conseguem vencer o mal, sozinhos e acabam se matando.
As políticas de segurança pública não incluem a saúde mental dos agentes e militares. Percebemos que esses profissionais, de maneira geral, vivem à margem dos programas existentes na área. Os resultados do estudo coordenado por nós mostram que 80% dos policiais não se sentem reconhecidos pela sociedade nem pelos seus superiores. Para o poder público, o investimento é só material: na compra de viatura e na construção de quartéis e delegacias. “Os governantes não enxergam o policial como ser humano, por isso ele se sente cada vez mais descartável e adoentado.”

Fonte: Dayse Miranda é socióloga, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)/Saulo Araujo – Metropoles.com/O Câmera

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