Um dia depois de o presidente Michel Temer se livrar da segunda denúncia no plenário da Câmara dos Deputados, o senador Renan Calheiros (PMDM-AL) subiu à tribuna do Senado para atacar o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e apresentar em detalhes seus argumentos de defesa contra os processos a que responde na Justiça.
No Supremo Tribunal Federal, há 15 inquéritos abertos contra o senador. Ao longo de duas horas, Renan fez da tribuna do Senado sua “última trincheira”, como disse na ocasião. Essa fala virou um livro: “Quanto mais perseguição, mais óbvia a verdade”, de 80 páginas, impresso com recursos públicos, pela gráfica do Senado. O caso foi revelado ontem pela coluna Poder em jogo, do GLOBO.
— O então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, resolveu espezinhar a política selecionando alvos, forjando delações, manipulando dados, e promovendo vazamentos, alguns mentirosos, todos com relação a mim mentirosos, é bom frisar. (…) Essa gente preconceituosa nunca aceitou ser possível um senador de um pequeno e pobre estado nordestino ser escolhido pelos seus companheiros de todas as unidades da Federação para presidir o Congresso Nacional em quatro oportunidades — discursou Renan, naquela quinta-feira, 26 de outubro, defesa que entrou em sua narrativa. As informações são de O Globo.
No livro, paga com dinheiro público, Renan diz que Janot estava numa “investida persecutória” e se movia por vingança contra ele e outros políticos, valendo-se de peças acusatórias mal feitas. Em alguns momentos, ele chama a equipe do ex-procurador-geral de “bando” e chega a acusá-lo de ter ultrapassado “criminosamente” a barreira da Constituição.
— Rodrigo Janot subestimava a inteligência alheia e tratava a todos como mulas sem cabeça. Ele precisava forjar um cenário capaz de emplacar e propagar suas falsas e generalizadas narrativas e usou todos os que podiam ajudá-lo nessa crueldade, nessa perseguição — disse o peemedebista, na tribuna.
SANTO AGOSTINHO
O livro reproduz a íntegra do discurso e é organizado em capítulos. Em um deles, intitulado “O roteiro de perseguições”, Rena cita a Revolução Francesa e Santo Agostinho para declarar que o Ministério Público deu início a processos penais de forma indistinta e sem justa causa.
Segundo a assessoria de Renan, foram impressos 5 mil exemplares do livro. Os senadores têm uma cota anual de volumes a serem impressos pela gráfica do Senado. O órgão informou que é comum que os parlamentares usem essa prerrogativa para produzirem cópias encadernadas de seus discursos. Juntando as cotas de outros anos, Renan teria direito a um volume de 20 mil tiragens.
— Sinceramente, custei a compreender que membros do Ministério Público abdicassem de suas funções para se dedicarem a perseguições pessoais e malversações de fatos e conceitos jurídicos, submetendo, sem justa causa, pessoas às desventuras do processo penal, indistintamente. Santo Agostinho, que sabia das coisas, considerava o processo por si mesmo uma tortura — diz um trecho do livro-discurso.
A assessoria de Renan afirmou que o gabinete recebeu dezenas de pedidos de cópias do discurso e, por isso, a decisão de fazer o livro para distribuição gratuita.
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