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domingo, 15 de fevereiro de 2015

CARNAVAL DA SOFRÊNCIA NA MESA AO LADO.

Os dicionários online definem o significado de sofrência: mistura de sofrimento com carência, que vem a ser o ato de sofrer por amor ou pura dor de cotovelo, de sofrer continuamente. O fato é que a sofrência também virou “hit” musical deste verão e deve assumir lugar de destaque nos embalos do Carnaval.
Até mesmo as pessoas mais eruditas, certamente, já ouviram a canção “Porque homem não chora”, de gosto duvidoso, é verdade, mas que tornou-se conhecida na voz de Pablo, um artista baiano, até então desconhecido do grande público e distante da mídia nacional.
Pois bem, num dos repetitivos trechos da canção, a dupla de compositores afirma:
“Você foi a culpada desse amor se acabar
Você quem destruiu a minha vida
Você que machucou meu coração
Me fez chorar
E me deixou num beco sem saída

Estou indo embora agora
Por favor, não implora
Porque homem não chora”
Tarde de ontem, sábado de Carnaval, num dos ótimos restaurantes do litoral sul do Rio Grande do Norte, impossível não ouvir o que duas vozes masculinas conversavam na mesa ao lado. Na posição que eu estava não conseguia vê-los. Logo identifiquei que tratava-se de um jovem e um senhor de pelo menos uns 60 anos.
O ambiente era agradável. Na área externa mesas protegidas do sol acomodavam pessoas dispostas a se deliciarem na areia da praia, diante de um mar quebrado por pedras, formando piscinas naturais para o banho sem ondas. Muito longe, se ouvia, repetidas vezes, a tal canção que afirma: “Porque homem não chora”.
Na mesa ao lado, uma das vozes praticamente denunciava choro. Fiquei surpreendentemente tocada com o sofrimento do rapaz. Ele transmitia ao pai o que lia na tela do telefone celular. Entre mensagens recebidas e postagens de uma tal moça nas redes sociais, parece que ele sabia que estava fadado à “sofrência”. Dizia, ele:
– Pai, ela está lá, aproveitando com o cara. Já postou fotos aqui de todo jeito. Já entendi que não tem mais volta. Como pode, a gente se dedicar tanto a uma mulher, fazer tudo que ela queria e ela ainda fazer um negócio desse?
O pai tentava consolá-lo, sem o menor sinal de sucesso:
– Meu filho, eu sei que o que o coração não vê, a alma não sente. Saia dessa rede social!
O rapaz completou:
– Ela parece que faz de propósito. Sabe que eu vou ver. Precisava ficar se exibindo? Não podia ser mais comedida em nome de tudo que a gente viveu juntos? Mas não, a todo instante faz questão de postar uma foto com o cara, que além de tudo eu sou muito mais bonito do que ele.
Não aguentei, ri baixinho. O rapaz ainda não compreendeu para que serve as redes sociais, tampouco a máxima: para muitas pessoas pouco importa o que sente o coração do outro.
Depois de sucessivos diálogos, o pai levantou-se e avisou que iria ao sanitário. Não resisti e olhei para conferir se a figura física correspondia à imagem que eu já havia construído a partir da voz e da história que ouvia. O rapaz tinha todos os predicados para estar em muitos outros braços, mas estava ali, na mesa ao lado, sofrendo por amor. É... é Carnaval!

Fonte: Cláudia Santa Rosa é Professora, Especialista em Psicopedagogia, Mestre e Doutora em Educação/http://www.marceloabdon.com.br/

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