Companhia nega despejo de esgoto na morte de peixes em lagoa no RN
Município de Lagoa Nova acusa Caern de despejar esgoto na água.
Peixes voltaram a morrer nesta quarta após caso registrado em fevereiro.
As causas da morte de milhares de peixes na lagoa que deu origem ao município de Lagoa Nova, a 140 quilômetros de Natal, seguem sem explicação concreta. A Secretaria de Meio Ambiente da cidade coloca a culpa em supostos despejos da lagoa de estabilização da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) que fica anexo à lagoa.
A empresa nega a informação. Para a Caern, a mortandade ocorre devido aos efeitos da seca, mas também pode estar ligada à ação clandestina de agricultores.
A lagoa teve dois casos de mortandade de peixes tilápia em 2013. A primeira, em fevereiro, deixou milhares de animais mortos (veja o vídeo ao lado). Buscando uma resposta para o fenômeno, uma análise da água foi realizada pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do RN (IFRN). O relatório, divulgado no dia 24 de abril, conclui que a lagoa sofreu um processo chamado de eutrofização.
“O fenômeno é causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) em uma massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. Estas, por sua vez, fomentam o desenvolvimento dos consumidores primários e eventualmente de outros elementos da teia alimentar nesse ecossistema”, diz o relatório assinado por um engenheiro ambiental.
O aumento da biomassa citado pode levar à diminuição do oxigênio na lagoa e provocar a morte dos organismos, além de diminuir a qualidade da água e alterar o ecossistema.
“Essa análise acusou a presença de coliformes fecais na água”, afirma o secretário de Meio Ambiente de Lagoa Nova, José Luiz Neto, que acusa a Caern de despejar esgoto na lagoa. “Foi construída há 12 anos uma piscina de dejetos para esgotamento sanitário anexa à lagoa. A obra foi feita irregularmente. A Caern despeja todo o esgoto na água”, afirma.
Segundo ele, a situação foi escancarada com a seca, que deixou o nível de água baixo na lagoa e prejudicou a oxigenação dos peixes
Caern revela prática ilegal de agricultores
Chefe da Unidade de Esgotos da Regional de Caicó da Caern, o engenheiro Bruno de Medeiros afirma que não houve qualquer extravasamento de dejetos da lagoa de estabilização da companhia.
O engenheiro ressalta a influência do fator seca e revela que agricultores da região costumam perfurar ilegalmente emissários da Caern, o que contribui para a mortandade na lagoa. “Muitos agricultores perfuram os emissários para irrigar as plantações de capim, fazendo com que a água servida e utilizada pela população em suas casas não chegue ao seu destino final, que seria a lagoa de estabilização, e escorra para a lagoa central da cidade”, ressalta o engenheiro.
Município quer audiência pública
De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Lagoa Nova, dois protocolos para pedir a limpeza da água e a retirada da lagoa de estabilização da Caern foram enviados para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) nos dois últimos anos. “A lagoa que deu início à cidade corre o risco de ser dizimada”, alerta.
O secretário de Meio Ambiente afirma que vai tentar convocar uma audiência pública com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) e Caern para tratar do caso.
“Já tentei contato anteriormente e nenhum dos órgãos se pronunciou. A poluição da lagoa já aumentou cinco vezes. Dá para sentir o mau cheiro e ver a água preta. Se não houver resposta vamos levar o caso ao Ministério Público”, conclui José Luiz Neto.
Fonte: Felipe Gibson/G1
Fotos: Eliabe Alves e Roberto Paixão
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