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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

A DIVA. POR NAPOLEÃO VERAS.

Vendo hoje que Bibi Ferreira nos deixou aos 96 anos, me ocorreram imediatamente lembranças das vezes em que, prazerosamente, me abandonei à alquimia da grande artista.
Ouvi-la como Edith Piaf, La vie en rose, Hymne à l’amou, Milord, Padam, padam, o melhor do repertório da musa francesa, num perfeito cerzido entre voz e gestos, entre a atriz e a cantora, que curiosamente também dançava, sapateava, dirigia, tocava um instrumento - o violino, e sobretudo, comovia em todos esses voos.
Outra, a noite mágica no Alberto Maranhão, na companhia da OSRN, regência de Oswaldo D’Amore, passeando pelo cancioneiro nacional, e claro, mergulhando na noite funda e enluarada de Villa Lobos, ou na elegância moderna de Tom Jobim.
Como não lembrar do encantamento de Melodia Sentimental, ou do Eu Sei que Vou te Amar, a voz em emotivo diálogo com essas melodias definitivas?
Ou, antes de tudo, o primeira alumbramento: peça Gota D’água, Tereza Raquel, Rio, meados dos anos 70. Bibi na pele de Joana, transposição de Medeia, para o século passado. Difícil dizer se seu maior trabalho. Certamente, também divino. Ainda não esqueci -felizmente - sua força dramática no palco. Seu canto cortando a noite, ’já lhe dei meu corpo, minha alegria, já estanquei meu sangue quando fervia, olha a voz que me resta...’.
Talvez eu tivesse esquecido quase tudo se não fossem suas mãos brancas, retesadas, espalmadas, onde se contavam os tendões, em frente ao rosto, sob um canhão de luz, em profunda comunhão com a tragédia daquela mulher abandonada.
Essa cena foi escolhida pela memória para permanecer em mim. Intacta.
Existirá entre nós humanos alguém que tenha vivido 96 anos e trabalhado incansavelmente na profissão por 95? Pois Bibi, filha de ator e bailarina, subiu ao palco com dias de vida, e de lá não mais se afastou.
Encarregou-se de nos fazer rir, chorar, cantar, pensar.
Fez disso um ofício.
Imensa Bibi!

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