Em duas semanas, o PMDB realizará em Brasília um congresso partidário. Debaterá um esboço de programa de governo. Divulgado na semana passada, o documento chama-se ‘Uma ponte para o futuro’. Na economia, é a favor de tudo o que a gestão Dilma rejeita e contra qualquer coisa que a presidente realiza.
No papel, o principal sócio do PT no poder federal virou a mesa. Mas fez isso à sua maneira, sem tirar os cotovelos do tampo. Manteve-se à frente de sete ministérios. Nomeia freneticamente apaniguados para os escalões inferiores da máquina estatal. E convive harmonicamente com Renans e Cunhas.
Quer dizer: não é que o PMDB não veja a solução para a crise. O que o partido não enxerga é o problema. Ou, por outra: o PMDB se oferece como solução sem se dar conta de que, antes, precisa deixar de ser parte do problema.
Na sua proposta de programa, o PMDB se oferece para “buscar a união dos brasileiros de boa vontade.” Anota que “o país clama por pacificação, pois o aprofundamento das divisões e a disseminação do ódio e dos ressentimentos estão inviabilizando os consensos políticos sem os quais nossas crises se tornarão cada vez maiores.”
“A presente crise fiscal e, principalmente econômica, com retração do PIB, alta inflação, juros muito elevados, desemprego crescente, paralisação dos investimentos produtivos e a completa ausência de horizontes estão obrigando a sociedade a encarar de frente o seu destino”, diagnosticou o PMDB.
“Nesta hora da verdade, em que o que está em jogo é nada menos que o futuro da nação, impõe-se a formação de uma maioria política, mesmo que transitória ou circunstancial, capaz, de num prazo curto, produzir todas estas decisões na sociedade e no Congresso Nacional”, receitou o PMDB. “Não temos outro caminho a não ser procurar o entendimento e a cooperação.”
O que o PMDB disse, com outras palavras, foi o seguinte: Dilma quebrou o país e perdeu as condições de governar. Acomodado no lugar dela, o vice Michel Temer se entenderia com a oposição, formaria um gabinete transitório de união nacional e aprovaria no Congresso as reformas necessárias para tirar o Brasil do buraco —mais ou menos como fez Itamar Franco nas pegadas do impeachment de Collor.
Respaldado pela maioria transitória, Temer promoveria as reformas amargas que Dilma jamais proporá. Por exemplo: fim da indexação dos benefícios previdenciários ao salário mínimo e fixação de idade mínima para a aposentadoria (60 anos para mulheres e 65 para os homens).
Quando surgiu, em 1966, o PMDB era o contraponto à ditadura militar e representava o Brasil inteiro. Depois da redemocratização, passou a representar grupos econômicos e corporações. Hoje, representa a si próprio.
No passado, a face mais conhecida do PMDB era a de Ulysses Guimarães. Hoje, exibe o bigode do Sarney, na cara do Renan, emoldurada pela sobrancelha do Jucá. Tudo isso e mais o estômago hipertrofiado do Cunha. Nesse contexto, o documento ‘Uma ponte para o futuro’, concebido para ser uma luz, é ofuscado pelo pus no fim do túnel.
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