A foto acima, uma selfie tirada pelo deputado federal Leonardo Picciani em agosto de 2014, no centro do Rio, diz muito sobre o atual estágio do governo Dilma. Junto com seu irmão, o deputado estadual Rafael Picciani, à direita na imagem, o atual líder do PMDB na Câmara pediu votos para o tucano Aécio Neves na última eleição presidencial. Até dois meses atrás, Dilma negaria um cumprimento ao deputado se cruzasse com ele. Na semana passada, ofereceu-lhe dois ministérios. Entre eles o da Saúde, maior orçamento da Esplanada —coisa de R$ 106 bilhões.
No esforço que realiza para reformar o gabinete loteado e convencional que anunciou há apenas nove meses, Dilma sucumbiu sem ressalvas ao fisiologismo. A ideia de que a presidente dirige os rumos do país nesta ou naquela direção tornou-se uma ilusão no instante em que ela convocou Leonardo Picciani ao balcão. Nessa hora, equilibrando-se em meio ao entrechoque das crises econômica e política, Dilma deixou claro que, governada pelas circunstâncias, sua prioridade é não cair. Para evitar o impeachment, submete-se à chantagem de Picciani.
Dilma planejara anunciar seu novo gabinete na última quarta-feira. Adiou para quinta. E voou para os Estados Unidos sem conseguir divulgar o “novo” formato da Esplanada e os nomes dos ministros. Antes de embarcar, numa conversa com o vice-presidente Michel Temer, Dilma atribuiu a demora a Picciani.
Dilma já havia fechado a cota ministerial do PMDB. Manteria em seus cargos: Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Eliseu Padilha (Aviação). Extinguiria a Pesca, transferindo seu titular, Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho, para Portos. E acomodaria na Saúde um dos indicados por Picciani.
Ao saber que a Câmara ganharia apenas um novo ministro e não dois, Picciani elevou o timbre. Recordou que a presidente comprometera-se em acomodar um deputado também na pasta da Infraestrutura, que resultaria da fusão de Portos com Aviação Civil. E exigiu a entrega da mercadoria. Sob pena de retirar os nomes que havia apresentado.
O mais curioso é que o timbre grosso de Picciani não orna com sua capacidade de fornecer votos para Dilma no plenário da Câmara. Na sessão em que o Congresso cedeu vitória parcial a Dilma na análise de vetos presidenciais, o PMDB entregou ao governo apenas 34 dos seus 64 votos. Em privado, Eliseu Padilha disse que, no período em que auxiliou Michel Temer na articulação política, assegurou entre 48 e 50 votos nas votações do ajuste fiscal.
Quer dizer: ainda que resolva ceder às exigências de Picciani, Dilma não terá a segurança de um apoio coeso da bancada do PMDB na Câmara. Seu interlocutor negocia algo que não está disponível no PMDB: unidade. Defensor do impeachment, Geddel Vieira Lima, presidente do PDMB da Bahia, diz que seu partido “faz book rosa” com Dilma. Já se sabia que a política é a segunda profissão mais antiga do mundo. Geddel insinua que ficou muito parecida com a primeira a partir da transação entre Dilma e o PMDB.
Fonte: http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
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