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domingo, 23 de fevereiro de 2014

OBSERVATÓRIO ECONÔMICO-SOCIAL, POR LARISSA MATOS.

Da varanda do Alfa Barra I, sentindo a calidez da alta temperatura que fervia o asfalto da Av. Ayrton Senna, observava a multidão que descia dos ônibus, em direção à praia da Barra da Tijuca, com cadeiras e comidas, para curtir aquele sábado de descanso escaldado pela sensação térmica de 50 graus.
Meus olhos passeavam observando o cenário: as pessoas, maioria de pele negra, saiam dos ônibus que paravam próximos ao Shopping Barra e caminhavam debaixo de um sol abrasador em direção à orla.
Ali, ao pé do mar, se amontoavam, sem comodidade alguma, nas adjacências do posto 8 (local mais próximo às paradas de ônibus). Não obstante, sentiam-se confortados por poderem usufruir de um bem público de uso comum do povo sem custo.
Enquanto isso, no Shopping Barra, numa discrepância singular, acobertados por seguranças privados, refrescados pelo ar condicionado e sorvetes Häagen-Dazs, circulavam preponderantemente pessoas de pele branca e olhos claros.
A cena, em rápida síntese, retrata a marca indelével dos vários anos deixados pela escravidão – relação social de produção oficialmente aplicada no Brasil desde o início da colonização até 13 de maio de 1888.
Foram quase quatro séculos adotando um sistema pernicioso às relações humanas que deixou graves sequelas na nossa sociedade, visivelmente percebidas na segregação social e na prática de condutas preconceituosas contra pessoas que ainda, majoritariamente, sequer têm acesso aos direitos sociais, como educação de qualidade, atendimento satisfatório na saúde e moradia apropriada.
Certamente a violência é bem mais complexa e envolve vários fatores. Não obstante, esse quadro de segregação – incluindo não somente os negros, mas todas as pessoas carentes que sofrem com a marginalização social –, deságua na sua progressão, contribuindo para o ranking brasileiro das 16 cidades mais violentas do mundo, segundo ONG Conselho Cidadão pela Seguridade Social Pública e Justiça Penal, do México.
Resultado, somos vítimas – direta ou indiretamente – da segregação social e tratamento marginalizado que, não raramente, despendemos, junto com o Poder Público, àqueles financeiramente desfavorecidos.
E não serão shoppings e condomínios fechados que nos trarão a tranquilidade de viver com segurança, mas sim o combate aos fatores que contribuem para os altos índices de violência.
Para tanto é preciso promover a solidariedade, praticar o respeito ao próximo e a implementar política públicas efetivas de atenção àqueles mais necessitados, como forma de resgate da cidadania e efetivação da dignidade da pessoa humana.

Larissa Matos é advogada e mestranda em Direito do Trabalho/http://tribunadonorte.com.br/

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