O petista Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, será mesmo demitido. Na tarde de terça-feira, ele gastou a sola dos sapatos nos corredores do Palácio do Planalto atrás de apoio para ficar no cargo. Em vão. Ele vai se juntar aos 16 integrantes da cúpula e da assessoria do Ministério dos Transportes que foram demitidos ou afastados desde o início da crise provada por denúncias de corrupção. Ontem, foram exonerados mais três servidores.
O aviso de que não há a possibilidade de ele permanecer na mais importante diretoria do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) foi dado a Caron pelo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, ainda na segunda-feira. Desde então, Caron passou a trabalhar, na tentativa de se garantir. Só que encontrou resistência no PR, partido da base da presidenta Dilma Rousseff mais prejudicado com a crise nos transportes, que exige a saída dele.
Os parlamentares do PR já fizeram chegar ao ouvido da presidenta Dilma que se o petista não for afastado os representantes do partido não pagarão a conta sozinho. Mais. Darão o troco. A rebelião anunciada poderá não esperar a volta aos trabalhos do Congresso, em agosto.
Hideraldo, petista e gaúcho, antigo aliado da presidenta Dilma no Rio Grande do Sul, foi avisado de que poderá até encontrar espaço em outro setor mas que será impossível mantê-lo no Dnit. Uma acomodação poderá ser buscada para ele no governo do Rio Grande, governado pelo petista Tarso Genro.
O Diário Oficial da União publicou ontem atos com a demissão de mais três pessoas ligadas aos transportes. São eles: Eduardo Lopes, comissionado do Ministério dos Transportes, ligado ao secretário-geral do PR, Valdemar Costa Neto (SP), conforme antecipado pelo jornal O Estado de São Paulo de ontem; Cleilson Gadelha Queiroz, gerente de Licitações e Contratos da Valec, dono da FC Transportes, de Brasília; e Pedro Ivan Rogedo, este a pedido. Até agora já foram demitidas 16 pessoas no setor de transportes do governo, desde a crise que eclodiu no dia 4.
Dilma avisa que manterá o rigor
A presidenta Dilma Rousseff manterá o estilo "rigoroso" no dia-a-dia e a "faxina" nos ministérios, sempre que surgirem denúncias consideradas relevantes. Em meio a queixas de aliados pelas demissões de representantes do PR no setor de Transportes por supostas irregularidades, ela deu demonstrações de que não vai contrariar a opinião pública e vê sintonia entre seu governo e manifestações divulgadas na imprensa.
O Planalto avalia que as queixas dos aliados à posição de Dilma, especialmente em relação às demissões, são tentativas de moldar um comportamento já conhecido. A presidenta e sua equipe dizem que foi possível manter a marca da "austeridade" durante a "limpa" nos transportes, com 16 demissões. Dilma continuará a dispensar envolvidos em acusações, mas já avisou que não se tornará "refém" nem da imprensa nem de dossiês.
Assessores do governo dizem que o momento da relação de Dilma com os aliados não causa preocupação, embora haja mal estar na base de sustentação do Planalto. Até mesmo a cúpula do PT está apreensiva com o estilo duro da presidenta. Na tentativa de amenizar esse incômodo, auxiliares da presidenta observam que não há divergências, por exemplo, com o PMDB, maior partido da base. Eventuais divergências no futuro, dizem, devem ser tratadas caso a caso.
Dilma recebeu ontem o ministro das Cidades, Mario Negromonte, da cota do PP. A pasta está na lista de possíveis novos alvos da "faxina" de Dilma, assim como Trabalho, comandada por Carlos Lupi, do PDT, informaram assessores do governo. Em recados que chegaram nos últimos dias ao gabinete da presidenta, aliados disseram que até concordam com as mudanças, mas reclamaram da forma dura que Dilma teria agido em relação aos representantes do PR.
A reportagem perguntou a auxiliares da presidenta se o comportamento dela leva em conta pesquisas de opinião pública. Os assessores disseram que Dilma não está preocupada com pesquisas e está apenas realizando o governo para o qual foi eleita. Eles, no entanto, relatam que a presidenta dedica uma parte do seu tempo para reagir a notícias consideradas por ela negativas que saem na imprensa. A presidenta busca informações para confirmar fatos e reage repreendendo ministros ou cobrando atitudes.
Dilma tem demonstrado obsessão em controlar as informações que circulam no Planalto e na Esplanada dos Ministérios, reclamando de subordinados que "vazam" informações de audiências e reuniões Assessores de Dilma também minimizaram um eventual desgaste dela com o grupo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Planalto, todos fazem coro que a relação continua "intensa" e que Dilma busca sempre manter o "padrão" de aceitação pública obtido pelo antecessor. Os assessores de Dilma, porém, reconhecem que o comportamento dela chega a ser um contraponto com o estilo conciliador de Lula com partidos da base e confronto direto com a imprensa.
Nas últimas semanas, assessores do governo mais próximos de Lula fizeram pressão, nos bastidores e em público, para que a presidenta recuasse na decisão de demitir Luiz Antonio Pagot, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), apadrinhado do senador Blairo Maggi (PR-MT). Dilma manteve a demissão. Auxiliares dela, no entanto, avaliam que o grupo mais próximo de Lula conseguiu acalmar o PR ao trabalhar a versão de que a saída de Pagot foi apenas política e de mudança administrativa.
Preocupação
A situação do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento é uma das poucas preocupações do governo. Deputados ligados a ele relataram a auxiliares da presidenta que o ex-ministro está se sentindo o principal prejudicado pela "limpa" nos Transportes. Ele reclama que saiu do governo com a imagem arranhada, o que considera "dramático" para um político que depende de votos nas urnas e tem planos já para as eleições municipais no Amazonas no próximo ano.
A presidenta pretende retomar, nas próximas semanas, os encontros no Palácio da Alvorada com representantes de partidos aliados. A pauta de votações no Congresso terá projetos importantes e a presidenta não quer passa a imagem de isolamento. Ela precisará contar com o apoio dos aliados até mesmo nas sabatinas dos novos escolhidos para substituir os demitidos do Dnit.
Ministro afirma que demissões são para ajustes
O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, disse ontem que as demissões em sua pasta fazem parte de "ajustes necessários". Passos esteve ontem em Pernambuco e na Paraíba para vistoriar as áreas atingidas pelas fortes chuvas ocorridas nos últimos dias nos dois Estados.
"Assumi o Ministério dos Transportes e, ao fazê-lo, entendo que são necessários ajustes, e esses ajustes tem sido feitos", afirmou, em entrevista coletiva no Palácio do Campo da Princesas, ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
"Naturalmente, na medida em que haja necessidade de compatibilizar o ajustamento da máquina com aquilo que seja necessário, com aquilo que eu entenda que seja necessário para o funcionamento do ministério, eu farei", enfatizou.
O ministro afirmou ainda que está acompanhando o andamento das atividades e o surgimento de necessidades na pasta para avaliar novas decisões. "Não posso adiantar se vai haver novos cortes no ministério. Estou me inteirando e acompanhando diariamente as atividades do ministério. O que posso garantir é que tomarei todas as medidas adequadas", disse.
O ministro fez questão de ressaltar que tem autonomia para agir e que o ajustamento é "fundamental para o bom desempenho do Ministério". "Tenho autonomia e a confiança da presidenta", disse.
Fonte: Agência Estado
Foto: Wilson Dias/abr
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.