Cinco dias depois, o capitão entregou a Secretaria de Governo a uma afilhada de Lira. Deputada de primeiro mandato, Flávia Arruda recebeu a chave do cofre de cargos e emendas. Ameaçado pelo Centrão, Bolsonaro fraquejou. Não foi sua única capitulação ao centrão.
Na mesma segunda-feira, o presidente despachou Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. O pior chanceler da história não foi demitido por seu desempenho calamitoso. Caiu porque o Congresso exigiu sua cabeça. Despediu-se com uma carta rastejante, em que se refere ao capitão como “querido chefe”.
Com a pandemia fora de controle e os quatro filhos sob investigação, Bolsonaro perde popularidade e começa a assistir à debandada de fatias expressivas do PIB. Ao celebrar seu aniversário, há dez dias, o capitão disse que “só Deus” poderia tirá-lo do poder. É neste contexto que ele volta a apelar ao fantasma de um autogolpe.
O presidente nunca escondeu os planos. Quer transformar as Forças Armadas numa milícia particular para defender seus interesses políticos. Os militares abocanharam mais de seis mil cargos no governo, mas resistem a embarcar numa aventura golpista. Agora receberam um tranco com a demissão do ministro da Defesa.
As primeiras reações à queda de Fernando Azevedo indicam que não será tão fácil virar a mesa. Em solidariedade ao general, os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica acertaram uma renúncia conjunta. Bolsonaro poderá substituí-los, mas sabe que a cúpula militar continuará a vê-lo como um capitão baderneiro.
Passado o impacto das trocas, a realidade deve voltar a se impor. Enquanto o presidente fabricava a crise nos quartéis, o Brasil bateu ontem um novo recorde de mortos pela Covid: 3.668 em apenas 24 horas.
Fonte: Bernardo Mello Franco/O Globo
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
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