As incertezas que a vitória do ex-deputado de baixo clero Jair Bolsonaro suscitou nas eleições de 2018 foram amenizadas por uma convicção. O ex-capitão podia não ser o presidente ideal nem mesmo para alguns dos que votaram nele, mas estava apoiado por um tripé que lhe garantia sustentação: o ministro Paulo Guedes na economia, o ministro Sérgio Moro na Justiça e o núcleo militar, como "poder moderador" e executor.
Treze meses se passaram desde então.
Paulo Guedes nunca esteve tão escanteado. A crise do coronavírus transformou em pó o discurso da responsabilidade fiscal do economista, obrigado a escancarar as comportas do Tesouro que ele vigiava com zelo e obstinação. Junte-se a essa desgraça, a existência de um chefe inconformado com a enorme possibilidade de ter seu capital político erodido pela crise. "Paulo, abra as comportas". Como a ordem de Bolsonaro e a natureza do posto Ipiranga colidissem, a missão foi transferida para o general Braga Netto, de DNA desenvolvimentista e formação que faz de cada missão dada uma missão cumprida. Na foto dos ministros que ladeavam Bolsonaro no calamitoso discurso de ontem, o fato de Guedes ser o único ministro de máscara (e sapatos descartáveis de hospital!) parecia querer mostrar que ele já não pertencia mais àquele time.
Moro, o símbolo da luta contra a corrupção e a haste ética do tripé de Bolsonaro, foi-se da pior forma possível. De chancela moral do presidente, passou a seu acusador. O figurino de paladino da Justiça, terror de corruptos e algoz da iniquidade, fez com que cada frase do seu pronunciamento de ontem, emitida na mesma baixa frequência com que costumava interrogar os réus da Lava Jato, entrasse como uma faca no peito de Bolsonaro.
Horas depois da fala de Moro, o presidente sangrava a céu aberto nas redes sociais. Pela primeira vez, perdeu milhares de seguidores nas plataformas da internet. Nos grupos bolsonaristas de Whatsapp, o que se viu foi uma debandada maciça e tristemente silenciosa de apoiadores decepcionados. Com mais ou menos estridência, desembarcaram da canoa do bolsonarismo empresários, comentaristas políticos e tios do zap.
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Fonte: Thaís Oyama/UOL
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
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