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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A PROFESSORA DAS CRIANÇAS PERDIDAS.

Conhecida após a chacina da Candelária, Yvonne Bezzerra de Mello não precisaria trabalhar para viver, mas dedica sua vida ao ensino das crianças mais pobres.

Na semana passada, Yvonne Bezerra de Mello saía do banheiro de um shopping de um bairro nobre do Rio de Janeiro quando alguém cutucou seu ombro. “Pois não?”, disse ela ao se virar. Ao seu lado havia uma mulher com cara de poucos amigos: “Você não tem vergonha do que faz, educar bandido para ficar matando a gente na porta do shopping?”
Há muita gente que não gosta de Yvonne. É chamada de louca. Não entendem o que ela faz e a hostilizam na rua, onde passou anos alfabetizando crianças sem rumo. A raiva por ela vem de longe. Yvonne, hoje com 70 anos, perdeu seu anonimato em 1993 após a chacina da Candelária, quando três policiais militares assassinaram a tiros oito crianças de rua na porta da famosa igreja do centro do Rio. Ela, que na época dava aula para 250 meninos sem lar, foi a primeira pessoa que as crianças chamaram. A primeira a ver os oito corpos massacrados. A primeira a chamar a atenção sobre a barbárie.
Depois do massacre, Yvonne foi inclusive sequestrada. Por policiais, conta ela. “Puseram um fuzil na minha cabeça, diziam que iam me matar... Queriam evitar que eu testemunhasse. Mas não me mataram e testemunhei, claro que testemunhei [os três policiais foram condenados– hoje dois estão livres e um foragido]. Eu sabia o que acontecia ali todos os dias”, relata Yvonne, 24 anos depois do episódio.
Em 2000, o nome de Yvonne voltou a surgir. Sandro Barbosa de Nascimento, ex-aluno e um dos sobreviventes do massacre, sequestrava um ônibus da linha 174 no Jardim Botânico e, encurralado, gritava: “Chama a tia Yvonne!”. O desfecho do sequestro mais televisionado do Brasil poderia ter sido outro se a filóloga tivesse sabido do chamado. Mas ela só soube em 2002, graças ao documentário Ônibus 174, de José Padilha, que se aprofundou nos detalhes do caso, resolvido com a morte acidental de uma refém por um tiro da polícia e do Sandro, asfixiado na viatura policial. “Quem sabe se eu poderia ter mudado alguma coisa. Mas na época não havia celular, eu não tinha como saber”.
Em fevereiro de 2014, desta vez com redes sociais, seu nome voltou à tona. Passeando pelo Aterro do Flamengo, Yvonne encontrou um adolescente negro que havia sido espancado e amarrado a um poste com uma trava de bicicleta por um grupo de justiceiros. Ela ligou para os bombeiros pedindo que o liberassem e o gesto chegou ao Facebook. Nem importou que os justiceiros tivessem uma ficha criminal muito mais ampla que a da sua vítima despida e ferida. Médicos, advogados e tantos outros que ela não conseguiu identificar vomitaram o pior deles. “Nem te conto quantas ameaças de morte eu recebi, tive que pedir proteção da polícia. Chegaram a atacar meu prédio, meus vizinhos queriam que eu saísse dali e acabei apagando todas as redes sociais e indo embora do país. Fiquei 20 dias fora até as coisas se acalmarem”, relata.
Há mais de duas décadas que a vida de Yvonne está dedicada à educação das crianças mais necessitadas, embora a elite da cidade, à qual ela também pertence, lhe faça sentir seu desprezo. Essa elite, por exemplo, vem negando sua solicitação para ser membro de um clube privado frequentado pelo atual marido de Yvonne. “Eles dizem coisas como que eu vou levar favelado para dentro do clube”, se espanta.
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Fonte: Maria Martín/El País
Foto: Alan Lima


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