A oito dias de ser julgado pelo plenário, Demóstenes Torres vive cenas de desespero retórico. Parece decidido atear fogo às vestes de leão da ética. Antes, despe-se da antiga pele. Numa série de discursos, joga longe o revestimento. Nesta terça (3), fez o segundo pronunciamento da semana.
Se a atuação de Demóstenes no Senado ensinou alguma coisa, é a não esperar qualquer tipo de expiação altruísta de pecadores como o ex-Demóstenes. Como seria previsível, o orador loquaz deu lugar ao advogado de causa própria.
O ex-Demóstenes questiona a legalidade das provas, reclama da ausência de perícias… Súbito, lança na atmosfera o grande mote: hoje sou eu a bola da vez. Logo, logo será outro senador. É como se o ex-Demóstenes gritasse para os colegas:
Numa Casa majoritariamente composta de pequenos homens, eu era o gigante. Moído, fui reduzido a anão-moral. Que será dos senhores quando os grampos e as manchetes os descobrirem?
Se Demóstenes ainda existisse, ele seria implacável com o ex-Demóstenes. Talvez repetisse para o amigo da contravenção o que disse em 2007 ao amigo da empreiteira. Coisas assim: “Não me venha com a história de que meros indícios ou de que apenas indícios não são suficientes para ensejar uma condenação. São sim!”
Ou assim: “O Código de Processo Penal tem um Capítulo – ‘Dos Indícios’ – com um artigo que dispõe claramente a respeito do tema. E os indícios levantados pelo senador Jefferson Peres são mais que suficientes para provar que o senador Renan Calheiros quebrou o decoro parlamentar.”
Esse velho Demóstenes era campeão de audiência. O novo, nem tanto. O discurso desta terça (3) atraiu sete senadores ao plenário. O pronunciamento da véspera fora testemunhado por cinco. É como se, em respeito à castidade do original, o Senado refugasse o strep-tease do sósia devasso.
Fonte: blog do Josias/UOL
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