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domingo, 20 de maio de 2012

QUANTA IRONIA...

Há exatos trinta anos, quando a ditadura começa a operacionalizar a chamada abertura “lenta e gradual”, prometida pelo general Geisel, a primeira eleição de governadores por voto direto foi marcada pela introdução de uma aberração na regra eleitoral: a obrigatoriedade de vinculação dos votos de um mesmo eleitor a um mesmo partido em todas as instâncias, Mossoró encontrou uma forma peculiar de expressar sua resistência. Trinta anos depois, o “voto camarão” ressurge como uma proposta de resistência e protesto, agora por militantes do Partido dos Trabalhadores.
O objetivo era impedir a possibilidade que algum descontente do PDS (nova marca da Arena, o partido governista) pudesse estimular o eleitor a votar contra a decisão do comando partidário, responsável pela escolha dos candidatos ao governo dos estados, sob pena de estar cometendo um suicídio político. Por isso a obrigatoriedade da vinculação dos votos.
No nosso Rio Grande do Norte uma banda do PDS se sentia derrotada porque, pela terceira vez, o comando revolucionário preteria o nome de Dix-huit Rosado, ex-senador, ex-presidente do INDA (atual INCRA), integrante da comitiva de João Goulart à China quando houve a renúncia da Jânio. Numa época em que o Rio Grande do Norte se dividia em “aluizistas” (seguidores de Aluízio Alves) e “dinartistas” (partidários de Dinarte Mariz), Dix-huit era o nome dos dinartistas pra o grupo alcançar o Governo do Estado, num tempo em que a escolha dos governantes era tarefa de poucos. Naquela oportunidade, venceu o grupo emergente liderado por Tarcísio Maia (e de Dinarte). Tarcísio, que depois de fazer Lavoisier (um primo que nunca tinha exercido mandato), governador, apresentava o filho, José Agripino, respaldado por uma revolucionária administração na Prefeitura de Natal como apto a enfrentar, nas urnas, Aluízio Alves, um campeão de votos, como candidato do PDS.
Em vez do aliado, Vingt – líder do grupo Rosado – preferiu se alinhar ao arqui-inimigo, Aluízio Alvez, franco favorito para retornar ao governo nos braços do povo, quando foi alcançado pela obrigatoriedade da vinculação dos votos. Impregnado do espírito mossoroense, não se rendeu ao último inimigo e lançou o “voto camarão” como forma de protesto: na sua chapa, arrancava a cabeça (Zé Agripino) e votava em todos os outros nomes do PDS. Uns meninos que falavam num novo partido que estava sendo criado, o PT, deitaram e rolaram nas denúncias contra a falta de democracia na escolha dos candidatos dos partidos tradicionais, como eles chamavam.
Agora, depois de 30 anos, a resistência mossoroense se manifesta no Partido dos Trabalhadores, cuja direção nacional manda o diretório municipal rever uma posição tirada na consulta às bases, de ter candidato próprio a prefeito, para se submeter a um conchavo político, apoiando uma candidatura de outro partido.
Por ironia do destino, a beneficiária dessa posição autoritária é uma neta de Vingt Rosado, inventor do “voto camarão”, a deputada Larissa Rosado, que negocia o apoio do PT à sua candidatura em troca do apóio do seu partido, o PSB, ao candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.
Um dos jovens que ridicularizava o “voto camarão”, o repentista (e também agrônomo) Crispiniano Neto, confessa a inspiração em Vingt Rosado para propor o voto camarão, em 2012, como forma de protestar contra o autoritarismo do comando do seu partido.
- Quanta ironia…

Fonte: Cassiano Arruda/blog do novo Jornal

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