Em meio à crise de atendimento e de gestão na Saúde Pública, o médico Domício Arruda entregou no início da noite de ontem o cargo de titular da pasta. O pedido de exoneração foi aceito prontamente pela governadora Rosalba Ciarlini e será oficializado na edição de hoje do Diário Oficial do Estado. A secretária-adjunta Dorinha Burlamaqui foi designada para responder pela Sesap, até a nomeação do novo titular. Domício Arruda permaneceu no cargo por pouco mais de um ano e cinco meses (assumiu dia 31 de dezembro de 2010). Nesse período, enfrentou críticas por não resolver o caos nas unidades hospitalares do Rio Grande do Norte
e por firmar, sem licitação, contratos terceirizados, o principal deles para o Hospital Parteira Maria Correia - o Hospital da Mulher, de Mossoró. O contrato de R$ 15,8 milhões foi firmado em 29 de fevereiro com a Associação Marca.
Do valor contratual a Sesap pagou entre 22 de março e 14 de abril, 50,82%, ou seja, R$ 8,033 milhões. Em contrapartida, os principais hospitais de urgência do RN enfrentam uma crise aguda de desabastecimento, coleta irregular de lixo, inadimplência
com fornecedores, falta de leitos para internação e terapia intensiva superlotação. Domício deixa o cargo, após uma inspeção da promotora Iara Pinheiro ao Hospital Walfredo Gurgel, na segunda-feira, 30. Antes dessa ação, o MP havia solicitado ao Tribunal de Contas do Estado a abertura de uma auditoria financeira e contábil nas contas e folha de pessoal das 21 unidades hospitalares da Sesap, o que foi aprovado pelo pleno do TCE, em janeiro. Alvo de constantes questionamentos, Domício Arruda teve uma relação conflituosa com a imprensa. Um exemplo foi a negativa de entrevista no feriado de 1º de maio, durante a crise de limpeza e superlotação do Hospital Walfredo Gurgel. Nas últimas semanas, o ex-secretário também foi convocado pelo Conselho Estadual
de Saúde (CES-RN) para esclarecer o contrato com a A.Marca e apresentar o plano de gestão para o Hospital da Mulher de Mossoró. A plenária está agendada para o dia 9 de maio. Nas unidades hospitalares da rede estadual o caos se agravou nas últimas semanas. Nos cinco maiores hospitais - Walfredo Gurgel, Maria Alice, José Pedro Bezerra (Santa Catarina), Deoclécio Marques, em Parnamirim, e o Tarcísio Maia, em Mossoró, a situação é dramática. Depois de um feriado de 1º de maio tumultuado, com corredores superlotados e lixo amontoado a poucos metros do setor de nutrição, o Hospital Monsenhor Wafredo Gurgel ainda vive graves problemas operacionais. Na manhã de ontem, por volta do meio-dia, o lixo comum acumulado em um dos acessos da unidade, ainda não
tinha sido recolhido, por causa do débito com a empresa. Pouco depois em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Domício Arruda, ainda no cargo, garantiu que o lixo acumulado na segunda-feira e mostrado em reportagem da TRIBUNA DO NORTE, na edição da terça-feria, 01, havia sido "todo recolhido, às 18h da segunda" e que na tarde de ontem a empresa faria a coleta do restante dos resíduos. Ele informou que a dívida com a empresa tinha sido quitada. Ele não soube precisar o valor. Domício também informou que a Sesap repassou, ontem, para o HWG R$ 2 milhões de restos a pagar para quitar todos os contratos do ano de 2011 e mais R$ 690 mil equivalente à primeira das dez parcelas de custeio. No final da tarde, a reportagem voltou ao HWG. A limpeza realmente tinha sido feita. Funcionários que não quiseram se identificar disseram que na segunda-feira a coleta foi mínima.
"Eles recolheram muito pouco,por isso que o montante de hoje era o dobro do que tinha na segunda, porque juntou com o lixo do feriado e de hoje de manhã", disse o funcionário. Afora o lixo, o desabastecimento e a falta de leitos (de internação e terapia intensiva) denunciam o improviso a que médicos, enfermeiros e pacientes estão submetidos.
As enfermeiras Manuela Barbosa e Gracinalda Ciríaco resumiram o quadro: "trabalhamos num casos, sem insumos, sem a quantidade adequada de funcionários, que é dimensionada para 280 leitos, que são os registrados no SUS, mas não temos como trabalhar sem atender os pacientes nos corredores". Ontem, segundo a Assessoria de Imprensa da unidade, 63 pacientes estavam
"internados" nos corredores do HWG, dos quais 17 da ortopedia. As condições eram desumanas.
"É uma situação que impede o exercício adequado da medicina e uma boa assistência ao paciente", resumiu o médico plantonista, Francisco Braga. Ao percorrer os corredores ontem, a reportagem da TN se deparou com indignação e revolta. "Aqui", relatou Iranaci Carmem de Souza, 40, "a gente é jogado feito bicho. É só pegandoe entulhando num canto. Mas tudo tem seu limite". Ela acompanha dona Lenira de Freitas, 66 anos, vítima de infarto e que está internada num leito improvisado para funcionar como UTI.
Iranaci aponta as falhas: "Nesses quinze dias que estou aqui só vejo as coisas piorarem. Os lençóis que têm são rasgados, tem muita maca, cadeira de levar paciente e cadeira de rodas quebrada, jogada num canto. Onde vai parar isso?". Dona Luisa Egídio da Rocha, 86 anos, só não ficou sentada numa cadeira porque a maca da ambulância que a conduziu ao hospital foi disponibilizada.
Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Adriano Abreu
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.