Prestes a assumir a pasta, ex-senador vai comandar orçamento de R$ 85 bilhões, mas pode ter que adiar projeto de disputar governo.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, é só sorrisos nas conversas entre amigos ao falar sobre sua transferência para o Ministério da Educação. A perspectiva de substituir o colega Fernando Haddad em uma das pastas de maior visibilidade do governo, prevista para se concretizar ainda nas próximas semanas, levou o ex-senador a comemorar, nos vários telefonemas que trocou com aliados desde o início do ano, o fato de ter “caído nas graças” da presidenta.
Prestes a assumir um orçamento de R$ 85 bilhões na nova pasta, Mercadante ganha a chance de construir uma “marca gerencial” – algo que até agora não conseguiu concretizar, na avaliação de alguns colegas de partido. Por outro lado, o cargo não condiz necessariamente com os planos eleitorais traçados pelo ministro até então. O petista alimentou nos últimos meses a ideia de disputar governo paulista pelo PT em 2014 – cargo ao qual se lançou em 2006 e 2010. Internamente, ele deixou claro, por exemplo, que não tinha a intenção de se colocar na disputa pela prefeitura paulistana neste ano. Preferia priorizar o Palácio dos Bandeirantes dois anos depois.
“Mas a verdade é que amarraram uma bola no pé dele. Dilma nunca vai aceitar que um ministro da Educação deixe uma pasta como essa depois de apenas dois anos”, reconheceu um petista próximo ao ex-senador. “Por aqui (em São Paulo), já estamos trabalhando com a perspectiva de que ele dificilmente conseguirá sair”, completou outro aliado.
Deixar a empreitada para 2018 teria como vantagem o fato de o atual governador Geraldo Alckmin não poder disputar mais um mandato. Há, entretanto, quem considere que a indicação de Mercadante para o Ministério da Educação o afasta do PT de São Paulo justamente no momento em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera um processo de renovação dos nomes da legenda no maior colégio eleitoral do País.
Independentemente de projetos eleitorais, Mercadante driblou as disputas internas e se antecipou ao processo que resultou na escolha de Haddad como o candidato do partido à prefeitura paulistana. No auge da tensão entre os times do ministro da Educação e da senadora Marta Suplicy (PT-SP), o ministro da Ciência e Tecnologia optou pela discrição e evitou se posicionar abertamente sobre o assunto. Nos bastidores, entretanto, deu carta branca a seus aliados para que trabalhassem em favor da candidatura de Haddad.
A conversa que selou a estratégia ocorreu cerca de dois meses antes de Marta se retirar da corrida, a pedido da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Na época, Mercadante pediu a um grupo de petistas de São Paulo que o encontrassem na Universidade de São Paulo (USP), onde cumpria agenda do ministério. Vários nomes da confiança do ex-senador foram convidados, entre os vereadores José Américo Dias, ex-presidente do PT paulistano, e Chico Macena, ambos incorporados ao conselho criado para coordenar a campanha de Haddad. “Naquele momento, ele deixou muito claro que poderíamos começar a trabalhar pela candidatura do Haddad”, comentou um participante da reunião.
Desafios
Uma vez empossado no Ministério da Educação, Mercadante terá de dissipar as preocupações quanto a uma mudança nos rumos da pasta, que ficou sob comando de Haddad desde 2005, quando o então ministro Tarso Genro deixou o governo para presidir o PT durante o escândalo do mensalão. Marca da gestão de Haddad, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) configura um dos principais desafios um dos desafios do novo ministro, em especial diante da proposta de realizar mais de uma edição do exame ao ano.
A ideia é vista como saída para minimizar a pressão e a quantidade de candidatos inscritos de uma só vez na seleção. Mercadante chegou a defender publicamente a realização de mais duas edições por ano, objetivo que o MEC previu para este ano e marcou para abril. A troca de ministros, porém, pode atrapalhar os planos. Se Mercadante mantiver a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Malvina Tuttman, no cargo, há mais chances de que o exame seja aplicado em abril. Caso contrário, dificilmente haverá tempo hábil para um novo funcionário entender o processo e programá-lo para esta data.
Embora diga respeito à realidade regional e não esteja sob guarda-chuva do MEC, o debate sobre a progressão continuada também já alimentou polêmicas sobre as posições de Mercadante para a área de Educação. O ministro já criticou duramente a progressão continuidade, que toma por base a ideia de que a repetência mais prejudica do que auxilia no aprendizado. Apelidou o modelo de “aprovação automática” e prometeu, tanto em 2006 quanto em 2010, que acabaria com o sistema e retomaria a avaliação em todas as séries do ensino público paulista. Ao se defender de críticas dos que apoiam o modelo, no entanto, Mercadante repetia que o maior problema não era o conceito em si, mas sim sua condução durante a gestão do PSDB em São Paulo.
Fonte: Último Segundo/Clarissa Oliveira e Priscilla Borges/iG
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