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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

ANTES DE MORRER, PM DENUNCIA FALTA DE CONDIÇÕES DE TRABALHO EM UPP.

'Policial não é guerrilheiro', disse o soldado Michel de Lima Galvão, num áudio gravado.

Num áudio gravado pelo soldado Michel de Lima Galvão, de 32 anos, um ano e dois meses antes de morrer, ele já denunciava a falta de condições de trabalho na UPP do Jacarezinho, um território sempre muito hostil para os policiais. Ele foi morto numa emboscada durante patrulhamento de rotina em 21 de fevereiro. O Estado do Rio registra quase 40% de todas as mortes de policiais militares no Brasil.
O soldado já havia denunciado a falta de equipamentos de proteção adequados e a desvantagem numérica em relação aos “inimigos”. Num dos trechos Galvão chegou a dizer: “Essa guerra não é nossa, governo falido, projeto (UPP) falido. Estão colocando a gente dentro do morro para morrer. A favela não é nossa casa. Ser policial não é ser guerrilheiro. Não é confrontar em desvantagem numérica, logística, operacional. Nós somos os únicos que temos coisa a perder... A gente tem que ter amor à nossa vida”. Galvão reclamou ainda que recebeu ordens para entrar numa favela, durante um tiroteio, com uma pistola e dois carregadores com 15 balas, porque não havia fuzil, nem projéteis suficientes para os policiais.
— Ele ainda foi punido pela PM por esse áudio. Durante os dois anos em que esteve na polícia, ele não tinha o armamento apropriado, nem um colete que o protegesse da bala que o matou. Ele não tinha nem instrução para essa guerra. O oficial só sabia dizer: “Vá e vença!” — contou a mulher do PM.
O coordenador do Núcleo Central de Psicologia da PM, tenente-coronel Fernando Derenusson, que pertence à comissão criada pelo comando da corporação para estudar a vitimização de policiais, afirmou que essas mortes estão voltando a patamares da década de 1990. Segundo ele, os policiais se sentem em condições inferiores aos bandidos, confirmando o áudio deixado pelo soldado Galvão.
— A morte de policiais gera medo nos demais. Em algumas unidades, eles se sentem trabalhando em condições inferiores aos adversários. Isso traz uma percepção de precariedade. Há um retrocesso. Quando se pergunta ao policial o que ele mais teme, ele responde: “De errar e de morrer”. Os policiais se sentem vulneráveis. Eles acham que o fuzil do criminoso é melhor do que o que a corporação oferece. É uma percepção, que, em algumas unidades, acaba sendo fato, principalmente em favelas com UPPs — explicou o especialista.
FALTA DE TREINAMENTO
Segundo Derenusson, as UPPs foram criadas com treinamento e estrutura de pacificação. Quando a violência cresceu nessas áreas, os policiais, que não foram treinados, nem equipados para um cenário de guerra, passaram a ser vítimas. Uma pesquisa feita com policiais de licença médica por problemas psicológicos, realizada pelo núcleo em novembro de 2016, revelou que 40% dos entrevistados tinham menos de cinco anos na corporação.
— Isso mostra que eles não foram preparados para a guerra, nem as UPPs. Antigamente, o Núcleo de Psicologia recebia demandas de familiares de policiais. Hoje, a maior carga do setor é de policiais da ativa. Por isso, passamos a priorizar os atendimentos desse grupo e de familiares de policiais mortos — disse Derenusson.

Fonte: Vera Araújo/O Globo
Foto: Reprodução

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