Silvio Costa (PSC-PE) atacou manobras do peemedebista para aprovar temas de seu interesse.
Em um momento inédito na Câmara desde que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) assumiu o comando da Casa, o deputado Silvio Costa (PSC-PE) subiu à tribuna para atacar a condução do presidente, classificando-o como um “ditador”, e criticando o consentimento dos deputados tanto da oposição, quanto da base, a quem chamou de “ovelhas”.
Em um discurso de quase 20 minutos — boa parte dele sem a presença de Eduardo Cunha —, Costa, que é vice-líder do governo, acusou o presidente de desrespeitar o regimento interno da Câmara e a Constituição com manobras para aprovar assuntos de seu interesse. O deputado disse que irá recorrer de decisões tomadas por Cunha como a votação do projeto de terceirizações, a construção de um “shopping” na Câmara, que chamou de “mercado persa” e a PEC que limita em 20 o número de ministério, de autoria de Cunha, que seria uma “invasão à independência entre os Poderes”.
— Isso aqui não é uma Câmara de vereadores da Venezuela! O deputado Eduardo Cunha quer ser um ditador! Ele é metido a pastor. Eu não tenho vocação para ser ovelha! Pode ter aqui 512 ovelhas, mas a mim ele não enquadra. Ele tem que respeitar o regimento e a Constituição — gritou o deputado.
Silvio Costa citou movimentos recentes de Cunha e questionou a legalidade de alguns deles, usando artigos do regimento e da Constituição que estariam sendo feridos. O primeiro caso apontado pelo deputado foi a votação do projeto das terceirizações, na noite de ontem, que somente foi possível porque Cunha decidiu que a Medida Provisória que deveria ser analisada não estava trancando a pauta porque ainda não havia sido lida. Silvio Costa disse que o presidente quer que as decisões fiquem “na mão dele” e que irá ao Supremo Tribunal Federal (STF), a exemplo de Alessandro Molon (PT-RJ), para questionar a constitucionalidade da manobra.
— Eduardo Cunha quer implantar aqui a ditadura do Legislativo. Ele quer ter a Constituição do Brasil e a Constituição do Eduardo Cunha. Ele quer o regimento da Casa e o regimento do Eduardo Cunha. Não é assim que a banda toca. Essa Casa está se curvando de forma equivocada aos caprichos do senhor Eduardo Cunha —disse.
Ao saber que o deputado o atacava em plenário, Eduardo Cunha, que estava saindo de seu gabinete, reagiu friamente:
— Falta credibilidade para o deputado Silvio Costa para a gente levar ele conta, ele tem que ser levado mais na pilhéria — disse Cunha.
Costa também citou a apresentação, aprovação da urgência e do projeto — tudo feito no mesmo dia — que regulamenta o novo indexador da dívida dos estados e municípios e disse que irá apresentar projeto de resolução para que um texto só possa tramitar em regime de urgência se for aprovado ao menos em uma comissão. O deputado disse ainda que Cunha “não tem o direito” de cortar os microfones quando os parlamentares estão discursando.
No momento em foi avisado da chegada de Cunha, já na parte final de seu discurso, Silvio Costa começou a mesclar elogios com críticas mais moderadas. Chamou Eduardo Cunha de “homem de inteligência privilegiada”, “um cara de palavra” e “craque”. Nesse momento, foi provocado por Alberto Fraga (DEM-DF), da bancada da bala:
— Não afina não!
Silvio Costa repetiu que irá ao Supremo se a PEC que limita o número de ministérios for aprovada na CCJ e citou o projeto de construção de um anexo com lojas, que tem o apoio de Cunha.
— Isso não pode ser transformado em mercado persa! Aqui não pode ter loja de grife! Daqui a pouco vão colocar uma boate. Se for aprovado, vou recorrer ao plenário e vou até a última instância — disse Costa.
Por fim, Silvio Costa disse que o presidente da Câmara havia errado em enviar uma comissão de deputados para examinar o real estado de saúde do então ministro da Educação Cid Gomes, quando faltou à sessão na qual deveria prestar esclarecimentos sobre a polêmica declaração de que há “300, 400 achacadores” entre os deputados.
Alguns deputados tentaram apartear Silvio Costa para defender Cunha e foram novamente chamados de “ovelhas”. Um deles, Manoel Junior (PMDB-PB), disse que o colega estaria “querendo renunciar” ao mandato para assumir o cargo de regimentalista da Casa e disse que ele deveria se preocupar com outros temas, como a crise econômica, ao invés de questionar o presidente que está garantindo a “integridade e independência” dos deputados.
Em resposta, Silvio Costa afirmou que Manoel Junior é “Eduardo-dependente”.
Durante o tempo que permaneceu em plenário, Eduardo Cunha não esboçou qualquer reação aos ataques e, quando terminou a discussão, deu prosseguimento ao próximo item da pauta sem responder Silvio Costa.
Fonte: Júnia Gama e Isabel Braga/http://oglobo.globo.com/
Foto: André Coelho/O Globo
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COMENTÁRIO SUJEITO A APROVAÇÃO DO MEDIADOR.