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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

INTOXICAÇÃO DA INFORMAÇÃO ELEITORAL E PESQUISAS DE INTENÇÃO DE VOTO.

O peso em favor de Aécio nos institutos Paraná, Veritá e IstoÉ/Sensus chega a 1.030% quando comparado com os resultados do Datafolha, Ibope e Vox Populi. O TSE parece que ainda não despertou para a questão da qualidade da informação oferecida ao eleitor.

Os resultados apresentados nas pesquisas dos Institutos Paraná, Veritá e IstoÉ/Sensus, para o segundo turno das eleições presidenciais, destoam marcadamente dos percentuais verificados nas pesquisas do Ibope, do Datafolha e do Vox Populi. A rigor, temos duas séries de resultados incompatíveis. De um lado, uma distancia esmagadora em benefício de Aécio Neves (a pesquisa IstoÉ/Sensus, divulgada em 9 de outubro, chega a dar 17 pontos de vantagem para Aécio) e, de outro, uma tendência continuada ao empate técnico, com oscilação da vantagem, que se repete em seis pesquisas do Ibope, do Datafolha e do Vox Populi. Que sentido tem que institutos poucos conhecidos no cenário nacional (Paraná e Veritá) tragam resultados tão despropositados numa eleição importante como é a eleição presidencial para o futuro da democracia brasileira?
Os institutos tradicionais, já incorporados à rotina das pesquisas eleitorais no país, apontam uma situação de empate técnico entre os dois candidatos. Em pesquisas divulgadas em 9 de outubro, o Ibope e o Datafolha trouxeram resultados coincidentes: Aécio com 51% dos votos válidos, e Dilma com 49%. Em 13 de outubro, a pesquisa do Vox Populi colocou Dilma na frente, com 51% dos votos úteis, contra 49% de Aécio. Nada espantoso. A situação se inscreve dentro do empate técnico, considerada a margem de erro, e reforça os resultados anteriormente já apresentados pelo Ibope e pelo Datafolha. Esses resultados voltam a confirmar-se na pesquisa mais recente desses institutos, de 15 de outubro. Nela Aécio aparece na dianteira, com 51%, e Dilma em segundo, com 49%, repetindo-se o resultado de 9 de outubro. Agora, no dia 20, a nova pesquisa do Datafolha coloca Dilma em primeiro lugar, com 52% dos votos, seguida por Aécio, com 48%.
De 9 a 20 de outubro, por quase duas semanas, continuamos em empate técnico. Em quatro pesquisas, Aécio soma 12 pontos à frente de Dilma. Em outras duas, Dilma aparece com 7 pontos. No total, temos 5 pontos a favor de Aécio. As pesquisas dão uma sensação de equilíbrio dentro de um cenário em que princípios razoáveis de avaliação, que nos permitem alguma segurança frente à realidade, podem funcionar. Entre esses princípios, podemos citar aquele que sustenta que as coisas tendem a permanecer as mesmas se não houver um fato extraordinário que as modifique brutalmente (princípio de continuidade), o que nos diz que, continuando relativamente estável, a realidade permite que se teçam expectativas razoáveis (princípio de previsibilidade), o que assegura que para uma mudança brusca é preciso um fundamento que o explique (princípio de causalidade). Podemos dizer que esses parâmetros razoáveis nos oferecem um padrão para distinguir o que é real, ou passível de ser aceito como real, e o que é engodo ou pura mágica.
Vejamos agora os resultados dos institutos Paraná, Veritá e IstoÉ/Sensus:
Enquanto as seis pesquisas anteriores davam uma diferença de apenas 5 pontos em favor de Aécio – que se neutralizavam pela pesquisa do dia 20 em que Dilma aparece com quatro pontos à frente –, as pesquisas da série agora considerada dão 51,5 pontos percentuais em favor de Aécio. O peso em favor de Aécio nos institutos Paraná, Veritá e IstoÉ/Sensus soma uma vantagem de 1.030% quando comparado com os resultados do Datafolha, Ibope e Vox Populi. É difícil não ver na desproporção gritante entre as duas séries de resultados uma afronta ao processo democrático em curso. Não só a informação, mas a qualidade da informação lançada para alimentar as avaliações e tomadas de decisões dos eleitores, são vitais para a integridade da democracia. Mas que dizer das pesquisas dos institutos Paraná, Veritá e IstoÉ/Sensus? Impossível escapar a sensação de um atentado terrorista às necessidades de informação que servem para orientar a opinião pública num sistema democrático.
É extremamente curioso que, sendo um dado vital da saúde do sistema democrático, a qualidade e disparidade das pesquisas e da informação que proporcionam não venha preocupando o TSE. Ele se imiscuiu autoritariamente no debate eleitoral para coibir a exposição de dados de interesse público, como foi o caso do aeroporto construído por Aécio. Mas não tomou qualquer iniciativa para combater a intoxicação da informação destinada ao eleitor. Ora, sejam os eleitores de Dilma ou os de Aécio, todos estão interessados em informação séria e confiável. Há, portanto, um interesse geral da cidadania que está sendo violado. E esses abusos ficarão sem punição para que se repitam a cada nova eleição no Brasil?
Se num dia de verão, as praias do Rio de Janeiro amanhecessem com céu azul e calor de 40° e chegassem ao meio-dia cobertas de neve e ventos glaciais, se os ponteiros dos relógios fossem para frente, mas o dia avançasse para trás, ou qualquer outro prodígio do gênero, então o mundo obedeceria ao capricho e não haveria regra estável nenhuma. Mas não é o caso. Existem certos princípios, com vimos, que nos permitem estabelecer expectativas razoáveis sobre o que acontecerá amanhã. Não estamos no país das maravilhas, em que coelhos são mordomos e o sorriso do gato pode aparecer sem o gato. Embora um historiador importante tenha dito, sobre os primeiros anos da República no Brasil, que “tudo era um pouco louco, mas havia lógica na loucura”, não chegamos ainda à demência generalizada.
Ou melhor, a luta pela democracia nos últimos cem anos no país tem sido justamente uma luta para desfazer a sombra da demência que trabalha por cobrir todo o país. Um país que é a sétima economia do mundo e um dos mais – senão o mais – desiguais é um retrato do disparate, não da lógica. No máximo, o será da lógica do disparate. Do mesmo modo, um país que tem um sistema de voto e apuração inteiramente eletrônicos, mas, por outro lado, acomoda-se com instituições bastante questionáveis (partidos, processo eleitoral, financiamento de campanhas etc) exibe uma chocante incongruência. Eliminar essas distorções é uma tarefa da democracia. Mas as pesquisas dos institutos Veritá, Paraná e IstoÉ/Sensus parecem rumar na direção contrária.
Qual o sentido dessas disparidades descabidas?
A minha opinião, considerando o tamanho da divergência e a importância do evento, é de que não tem outra finalidade que não a de disseminar uma atmosfera de irrealidade e confusão, de caos organizado. Trata-se de uma espécie de intoxicação informativa. Uma vez imposta a desorientação e desfeitos os parâmetros normais com que percebemos e ordenamos a realidade, como manter nossa capacidade de julgar e dimensionar os fatos? Se a realidade se torna aleatória, qualquer resultado eleitoral se torna plausível, sem que seja passível de consideração crítica. Principalmente se favorável ao candidato das oligarquias, porque este terá uma forte imprensa a incensá-lo no dia seguinte. Para prevenir a escalada da manipulação, melhor seria é que se denunciasse enquanto é tempo o processo em marcha.

Fonte: Bajonas Teixeira de Brito Júnior é doutor em filosofia/http://congressoemfoco.uol.com.br/

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