A prisão é um personagem recorrente na trajetória dos grandes líderes. Costuma não ser capaz de detê-los. Grades são impotentes diante da força dos que movem a história.
Após o fracassado Putsch de Munique, Hitler foi preso. Virou o jogo ao fazer um depoimento histórico no seu julgamento. Nove meses depois, saiu da cadeia para concentrar em suas mãos um poder que assombrou o mundo.
Deng Xiaoping, o líder modernizador do “Império do Meio”, amargou o expurgo e a prisão durante a Revolução Cultural. De volta ao poder, virou o principal responsável por colocar novamente “Tudo Sob o Céu” da China.
Fidel Castro foi preso após a tentativa frustrada de tomar o Quartel Moncada. O futuro líder da revolução cubana viraria uma lenda do século XX. Hugo Chávez passou dois anos na prisão após liderar um golpe fracassado. Saiu da cadeia para virar a reencarnação de Bolívar.
O líder Tupamaro Pepe Mujica passou 12 anos perambulando por solitárias, lutando contra a loucura. O isolamento desumano não o impediu de virar presidente e ícone da esquerda.
Getúlio driblou a prisão com um tiro no coração. Amassou as grades com as próprias mãos.
O caso mais emblemático talvez seja o de Nelson Mandela. Foram 27 anos de reclusão forçada. O mito sul-africano saiu da cadeia para a presidência. Virou um símbolo global e imortal.
No rol de mitos que transformaram prisões e exílios em pedaços de história, está Napoleão Bonaparte. Preso na Ilha de Berna após uma campanha fracassada na Rússia, o Imperador dos Franceses fugiu da ilha-prisão para retomar o poder de forma triunfal, até ser derrotado definitivamente em Waterloo, 100 dias depois.
É controverso se Napoleão fugiu de Berna por conta própria ou teve sua fuga facilitada por seus inimigos, convencidos da necessidade de desfazer o mito no campo de batalha.
A prisão de grandes líderes costuma deslocar o debate público. “Não importa o que Napoleão fez ou deixou de fazer, prenderam-no porque são incapazes de derrotá-lo militarmente.” Sempre fica a impressão de vitória no “tapetão” pelo adversário covarde.
Por isso estes movimentos, do algoz e do preso, são sempre muito bem calculados. A prisão fornece elementos para uma forte narrativa. Fortalece a ideia do mito indestrutível e transfere para o carcereiro “medroso” a responsabilidade de provar o contrário.
Neste sentido, pode ser inteligente permanecer preso. O que parece loucura para os simples mortais pode ser um cálculo dos que dialogam com a glória da imortalidade. Quando o que se disputa é a história, o tempo perde relevância.
Existe uma linha tênue entre a proteção santificadora das grades e sua capacidade de machucar, puxando os mitos do Olimpo de volta ao reino dos mortais.
Lula sairá da cadeia com seus direitos políticos restabelecidos? Resistirá na prisão? A tática de radicalizar – criticando “golpistas” que estiveram em seu governo - permanecerá na liberdade ou ressurgirá o “Lula Paz e Amor” da grande conciliação nacional?
Lula será candidato, colocando sua imortalidade à prova, ou suas declarações são apenas parte da estratégia atual? Seus algozes tramam para destruir o mito no campo de batalha?
Nenhum concursado de capa preta definirá a história. O final da trajetória épica será escrito pelo povo, a partir das escolhas que o ex-presidente fizer e oferecer.
Retorno triunfal ou derrota definitiva em Waterloo? Que o povo decida.
Fonte: Ricardo Cappelli/Congresso em Foco
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