É raro ver o presidente Jair Bolsonaro pedindo desculpas para alguém. Muito menos para uma jornalista mulher e negra. Mas um pedido aconteceu na noite desta quinta-feira, 30 de julho. Foi direcionado a Bianca Santana, que no último 7 de julho usou as seguintes palavras para denunciar o mandatário na 44ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU: “Em maio, o presidente da República me acusou [durante uma live no Facebook] de escrever notícias falsas. Esse ataque aconteceu na mesma semana em que escrevi um artigo mostrando a relação entre a família e os amigos de Bolsonaro com os acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco”. Colunista do portal UOL, ela foi escolhida por 19 organizações da sociedade civil para ser a face de uma ação coletiva apresentada no organismo internacional contra o presidente por seus ataques a pelo menos 54 mulheres jornalistas desde que iniciou seu mandato.
Santana também processou Bolsonaro na área civil por danos morais. Quando mencionou o nome da jornalista, ele fazia referência a “reportagens de fake news”, segundo reconheceu nesta quinta em sua live semanal nas redes. “Tinha o nome dela lá embaixo, houve equívoco da minha parte”, explicou. “Não era da jornalista Bianca Santana, minhas desculpas por esse equívoco nosso. Inclusive já mandei retirar toda a live do ar. Da nossa parte não tem problema em se desculpar quando erra”, reiterou o mandatário.
A jornalista reagiu afirmando que “não foi meramente um erro”, uma vez que “na página em que está publicada a notícia lida” por Bolsonaro não consta seu nome. “Por que o presidente insiste com outra informação falsa? Bolsonaro não se equivocou, ele violou direitos e provocou um dano à minha honra”. Ela assegura ainda que seguirá “exigindo, individual e coletivamente” que os ataques sejam interrompidos. “Fico animada por meus pedidos no processo terem sido parcialmente atendidos pelo presidente antes mesmo do julgamento. Mas sigo com a ação judicial, que tem também o objetivo de inibir que Bolsonaro siga atacando jornalistas”.
O número ataques foi levantado pela Artigo 19, uma das entidades que apoiam a denúncia na ONU. Já a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que também assina a ação, contabilizou 208 agressões a veículos e jornalistas em 2019, sendo o presidente responsável direto por 121. Neste ano, a relatora especial das Nações Unidas sobre a Violência contra a Mulher, Duvravka Simonovic, apontou em seu informe o crescimento em todo o mundo das intimidações e ameaças contra essas profissionais.
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Fonte: Felipe Betim/El País
Foto: El País
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