O presidente foi a Ipatinga fazer campanha num acontecimento sem nenhuma importância, a religação de um alto-forno da Usiminas, e no discurso ligou as labaredas contra o ministro da Economia. Jair Bolsonaro frita Paulo Guedes em público porque sabe que ele vai aceitar.
Guedes criou, para proteger sua própria autoestima, uma versão dos fatos: o presidente foi o eleito, ele decide. Sim, Bolsonaro foi o receptor dos votos. Mas isso não desobriga o ministro de defender suas ideias. Ambos estão errados. Bolsonaro atacou publicamente a ideia do ministro de extinguir programas sociais para financiar o Renda Brasil. O presidente está em campanha, mas o ministro da área econômica tem que se impor. Do contrário, Bolsonaro vai humilhá-lo até o dia em que Guedes deixará o cargo, sem prestígio e sem respeito.
A discussão técnica é que acabar com o abono salarial, por exemplo, teria muita reação no Congresso. O argumento é que o abono é mal focalizado, atende quem já tem carteira assinada e recebe até dois salários; parte desse grupo é de jovens de classe média. O certo seria o governo discutir internamente e apresentar uma proposta consolidada. O que houve foi uma fritura pública do ministro da Economia. Mais uma.
Essa formação do Ministério não tem a sensibilidade para desenvolver programas sociais. O Bolsa Família, por exemplo, foi pensado por especialistas para ser focalizado e hoje é elogiado aqui e lá fora.
Guedes acredita que acabar com o abono ou desindexar o Orçamento é simples. Outras tentativas no passado recente não tiveram sucesso.
Governar é fazer escolhas. Mas Bolsonaro não quer o ônus de governar, apenas o bônus.
Fonte: Miriam Leitão/O Globo
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