Parentes expõem a angústia da espera por um desfecho. Mais da metade dos que sumiram durante a tragédia foram achados com vida
"É uma ansiedade enorme, uma dor inacreditável", desabafa Adriano Brino, de 45 anos. Por volta das 15h30 do dia 30 de abril, já no ápice das chuvas históricas que levaram mortes e destruição ao Rio Grande do Sul, um deslizamento de terra percorreu cerca de um quilômetro encosta abaixo até atingir em cheio a propriedade de sua família, em Roca Sales, município do Vale do Taquari. Pai e mãe idosos, irmão, cunhada e duas sobrinhas, de 9 e 20 anos, foram vitimados pela tragédia. Hoje, três dos seis corpos seguem desaparecidos, o que só mantém a angústia dos parentes.
Passados dois meses do início dos temporais, ainda há 33 desaparecidos em 17 municípios gaúchos, de acordo com a Defesa Civil gaúcha. A lista chegou à marca de 140 pessoas no décimo dia de chuvas, o ápice da marca. A grande maioria sumiu ainda nas primeiras e mais intensas 72h da chuva, entre 29 de abril e 1º de maio. A essa altura, boa parte dessas famílias já não acredita mais que irá conseguir encontrar seus parentes com vida, mas se apega à esperança de poder descobrir o que aconteceu com eles e à possibilidade de um desfecho para a tragédia.
— A ficha não cai — resume Adriano. — Todos os dias procuro ler as reportagens, na esperança de que tenham achado mais alguém, para que a gente possa se de despedir pelo menos, saber onde eles estão.
Até agora, foram achados os corpos de Dorly Brino, de 57 anos, irmão de Adriano, e de duas filhas de Dorly: Gabriela Brino, de 9 anos, e Maria Eduarda Brino, de 20. Eles já foram sepultados. As buscas continuam por Elírio Brino e Erica Brino, de 78 anos, patriarcas da família, e pela esposa de Dorly e mãe das meninas, Janice Brino, de 49 anos.
— Um primo nosso havia acabado de sair de lá e já chovia muito. Foi o tempo de chegar em casa, ali perto, e ele conta que ouviu um estouro, como se um avião tivesse caído. Quando viu, o deslizamento já tinha levado a casa , havia muita terra, uma nuvem de fumaça. Pegou toda a granja da família e foi descendo tudo. Mais de 500 suínos morreram, o gado foi todo arrastado para o rio... Só restou um boi. Meu pai nasceu ali, antes era casa do meu avô, e nós nunca vimos nada parecido com isso.
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Fonte: Arthur Leal/O Globo
Foto: Arquivo Pessoal