O PSB lança neste sábado (28) em sua convenção nacional a candidatura do ex-governador pernambucano Eduardo Campos à Presidência com o desafio de atrair os votos que sua vice, Marina Silva, recebeu na disputa de 2010 e mostrar-se ao eleitor como uma alternativa à polarização PT-PSDB na política nacional.
Por ora, a surpreendente parceria entre Campos e Marina ainda não teve impactos relevantes nas pesquisas de opinião. No último levantamento do Ibope, feito no último dia 22 de junho, Campos aparece em terceiro lugar na disputa, com 11% das intenções de voto. O tucano Aécio Neves é o segundo colocado, com 20%, enquanto a presidente Dilma Rousseff lidera a corrida presidencial, com 40%.
Na última eleição, em 2010, Marina, então no PV, obteve 19% dos votos e até venceu em algumas capitais, entre as quais Belo Horizonte e Brasília.
Após a Justiça eleitoral recusar em outubro a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, Marina acabou aderindo – e levando seus aliados mais próximos – ao PSB. No entanto, o estilo diferente de fazer política traz dificuldades na hora de convencer o eleitor, apontam analistas.
Baixa rejeição
Campos, de 48 anos, é o mais jovem entre os três principais candidatos na disputa (Dilma tem 66 anos, e Aécio, 54).
Para Silvana Krause, professora de ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sua relativa juventude é uma "faca de dois gumes".
"Por ser mais jovem, ele é mais desconhecido nacionalmente e, consequentemente, tem uma rejeição menor entre os eleitores. Por outro lado, ele também precisa se esforçar mais para se tornar conhecido e construir uma imagem positiva", diz ela à BBC Brasil.
Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências, diz que "há sinais de que há um cansaço, um esgotamento" entre os eleitores com a polarização entre PT e PSDB na política nacional, fator que, segundo ele, é comprovado pelo alto percentual de eleitores que têm manifestado a intenção de votar branco ou nulo nas eleições.
"Esse cansaço abre espaço para um projeto alternativo, dada a crise de representação que recai contra PT e PSDB", diz Cortez.
Pesa a favor de Campos, segundo o analista, a boa avaliação com que deixou o governo de Pernambuco. Segundo uma pesquisa do Ibope, em julho de 2013, ele tinha 58% de aprovação entre os pernambucanos, o segundo maior índice nacional, atrás apenas do então governador do Amazonas, Omar Aziz (PSD).
Desconfiança
Apesar de seus trunfos, analistas avaliam que até agora a parceria de Campos com Marina não decolou. Segundo eles, isso ocorre porque os apoiadores de Marina encaram com desconfiança o fato de que, menos de um ano atrás, o PSB de Campos integrava a coalizão do governo federal.
"A relação dúbia do PSB com o governo cria dificuldades para que os eleitores de Marina, sejam eles evangélicos ou eleitores ligados a questões ambientais, se convençam de que o partido de fato apresenta uma alternativa", diz Krause, da UFRGS.
Segundo a professora, enquanto Marina construiu um discurso "crível" de oposição ao PT e ao governo federal ao deixar o Ministério do Meio Ambiente, em 2008, e lançar-se à Presiência, em 2010, "as distâncias entre o PSB e o projeto do PT ainda não são claras".
Além disso, a professora diz que Campos não parece abraçar as causas que deram notoriedade a Marina: a defesa de um modelo de desenvolvimento sustentável e de uma nova forma de fazer política.
Afinal, afirma ela, Campos vem de um "clã político": é neto de Miguel Arraes (1916-2005), um dos mais influentes políticos da história de Pernambuco.
Alianças
Outro problema que Campos e Marina têm enfrentado é se entender sobre as alianças da chapa para a eleição.
Em São Paulo, por exemplo, enquanto Campos defende que o PSB apoie a candidatura do governador tucano Geraldo Alckmin (PSDB), Marina quer que o partido lance candidatura própria.
Rafael Cortez explica que as alianças nos Estados são importantes para "nacionalizar" as candidaturas, ao fazer com que as mensagens dos candidatos cheguem aos eleitores de todo o país. Esse processo, diz o cientista político, implica construir palanques e comitês estaduais para os candidatos à Presidência.
"A Marina, com um discurso ancorado na nova política, tem defendido diminuir o número de parceiros para deixar mais clara a mensagem ao eleitor. Já o Campos e o PSB funcionavam de acordo com o sistema eleitoral brasileiro tradicional", diz ele.
"A aliança do Campos para governador tinha uma miríade de partidos de diferentes espectros".
Para crescer nas pesquisas, Campos também enfrenta como obstáculo a grande força do PT em sua região de origem, o Nordeste, a segunda mais populosa do país. Pesquisas sugerem que, embora o ex-governador tenha bom desempenho em Pernambuco, sua influência em Estados vizinhos ainda é tímida.
Fonte: João Fellet/http://noticias.uol.com.br/
Foto: Carla Carniel - Frame/Estadão Conteúdo
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