Quanto mais o governo perde aprovação e apoio político, mais distantes da realidade se tornam as imagens que o PT evoca de si mesmo. O resultado é um lento e consistente descolamento entre a percepção geral do eleitorado e a narrativa que o partido tenta construir para as próximas eleições. Como disse um bom observador, Dilma quer mudar e, ao mesmo tempo, nos convencer de que deu certo.
Segundo o Datafolha, três quartos do eleitorado querem mudar a forma como as coisas de governo têm sido conduzidas. Na convenção do PT, no último sábado, a presidente prometeu um “plano de transformação nacional” e um “ciclo histórico de desenvolvimento”. De claro e objetivo, pouco. No governo dela, o Brasil passou a inaugurar anúncios de obras. Ao invés do concreto, o vento.
Fica cada vez mais claro que o PT não quer discutir na eleição o desempenho real de Dilma à frente do governo. Ou o resultado das decisões que ela tomou. Por isso Lula tenta atrair os adversários para fora do campo. Vem daí o discurso de que ele sozinho interrompeu 500 anos de história do Brasil, o artifício das “elites contra o povo” e o “nunca antes neste país”. O governo quer um debate só de slogans.
A rua cobra serviços públicos, segurança, inflação sob controle. O PT fala em ódio, em medo do passado e divulga uma lista de jornalistas que devem ser caçados pela militância. O partido despreza o patrimônio democrático do Brasil, o fato de que as discordâncias e rivalidades são livres em seu caminho até a urna. Conscientemente troca a moderação pelo velho radicalismo.
Sob Dilma, ninguém confia no governo como planejador e construtor de soluções para os problemas. Ao contrário, parte dos problemas foi criada pelas decisões do governo. Não importa quanta purpurina os marqueteiros gastem. Democracia é assim: dizer o que deve ser feito, mostrar o caminho, construir a maioria e ganhar pelo convencimento. A outra via é a do grito.
Sim, o governo é tão ruim que até o PT quer mudar. O problema é que eles entendem a mudança como necessidade de trocar de slogan ou de penteado. Como o desejo de mudança não vai sair do cardápio até outubro, o PT tenta ajustar a realidade. Quer impor ao eleitor o que ele deve enxergar. É meio ridículo. O eleitor está vendo tudo.
Fonte: José Aníbal é deputado federal (PSDB-SP)/http://oglobo.globo.com/pais/noblat
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