"Votar nulo é como deixar de comprar as laranjas muxibentas pra fazer um suco 'marromeno'. E terminar sem suco algum. E mais: votando nulo você não ajuda a inviabilizar a eleição, como andam espalhando aí".
Quando as laranjas de casa apodrecem e a gente vai à feira comprar outras e as encontra feias, muxibentas, inconsistentes que nem um recibo de aluguel do Lula, o que é que a gente faz? Afasta as que estão mais estragadas, escolhe as menos piores, empina o nariz e manda embrulhar, né não?
Na vidinha do dia-a-dia praticamos o “se-não-tem-tu-vai-tu-mesmo”. E assim “a vida passa / e eu sem ninguém, / ninguém me abraça, / não me quer bem…”, como diria aquele bolerão do Fernando Lobo com o Antonio Maria, que era só do Antonio Maria, mas isso eu explico depois.
De volta ao mundo real. A comparação com a escolha das laranjas é pra chamar a atenção sobre a importância de escolher bem em quem se vai votar. Dia sim e outro também ouvimos que devemos escolher o melhor candidato. Mas ninguém se lembra de avisar ao eleitor que nem sempre podemos escolher a melhor laranja. Muitas vezes teremos de revirar as muxibentas mesmo, mas que sirvam pra fazer um suco “marromeno”. No caso dos candidatos, a laranja menos estragada é alguém que, mesmo não sendo ótimo, pelo menos cumpra decentemente o mandato.
Oportunistas do voto nulo
A falta de informação sobre a importância da escolha do menos pior – na falta do melhor – tem permitido aos oportunistas a disseminação de orientações que escondem armadilhas perigosíssimas. A principal delas é a indução ao voto nulo. Explico já.
(Abre parêntese. Nunca antes na história desse país, como diz o dono daqueles recibos fajutos, o eleitor brasileiro se defrontou com um quadro de tamanha devastação de lideranças políticas como agora. É um cesto destamanho abarrotado de laranjas estragadas. O país tem 35 partidos – o que aparentemente representa a pujança da jovem democracia de Pindorama. Mas se a gente olhar em torno vai se deparar com raríssimas lideranças capazes de ocupar neste momento um cargo público de relevo. No instante em que rabisco estas mal-traçadas não se vislumbra no horizonte eleitoral qualquer nome com estofo para ser classificado de “um bom candidato” na disputa à presidência. Fatalmente o eleitor será tentado a dar uma solene banana na forma do voto nulo. O diabo é que as bananas dos votos nulos, em vez de humilhar, vão alimentar precisamente os cretinos que o eleitor mais condena. Vou explicar. Acompanhe o raciocínio, é rapidinho. Depois eu explico a história da canção do Antonio Maria com o Fernando Lobo que não é do Fernando Lobo. Fecha parêntese).
Quem vota nulo vota no pior
É assim: toda vez que você vota nulo está deixando de votar em alguém. Ou seja, significa que, não votando no menos pior, você está abrindo espaço para o pior. Porque, para o candidato pior, quanto menos votos contrários houver, melhor para ele. Votando nulo, portanto, você está ajudando a eleger justamente o pior – aquele que você não queria que ganhasse de jeito e maneira. E abrindo mão da possibilidade de eleger, pelo menos, alguém que pode nem ser o melhor, mas que vai dar pra levar até a próxima eleição. Perdoem-me pela tautologia (corra ao dicionário, aqui não há espaço pra explicar o que é tautologia).
Noutras palavras: votar nulo é como deixar de comprar as laranjas muxibentas pra fazer um suco “marromeno”. E terminar sem suco algum. E mais: votando nulo você não ajuda a inviabilizar a eleição, como andam espalhando aí. Esse é mais um mito eleitoral, malandragem dos cretinos que espalham isso pra se dar bem.
Fonte: Paulo José Cunha/Congresso em Foco
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