Relatórios de acompanhamento às escolas oferecem subsídios para afirmarmos que as crianças e seus familiares, bem como os educadores das unidades onde há um trabalho sistemático de promoção da leitura, constroem ou fortalecem a relação com os livros e a prática da leitura, independentemente de outros estímulos, sendo consequência o processo de enraizamento de comportamentos leitores nesses atores sociais.
Aos poucos se amplia o número de escolas que conta com biblioteca ou sala de leitura e que procura ampliar e qualificar os seus acervos. Os impactos não são maiores porque ainda há indefinições quanto ao lugar de docência do professor mediador de leitura que atua nesses espaços, o que tem gerado rotatividade e descontinuidades das ações. Professor de perfil adequado para atuar nos espaços de leitura, inegavelmente, faz as crianças construírem um vínculo positivo, amoroso com a Literatura.
Ao mesmo tempo, o trabalho é fortalecido quando integra o projeto político-pedagógico da Escola, pois é natural que toda equipe valorize as atividades e, conjuntamente, busque resultados junto à comunidade. Já as gestões das Secretarias de Educação têm nos ensinado que os projetos se sustentam à medida que as escolas e a sociedade civil organizada os defendem e demanda ao poder público assumi-los, considerando a transitoriedade das pessoas nos cargos e as suas prioridades nem sempre convergentes.
A propósito, digo sempre que a escola pública tem jeito, embora imersa em problemas seculares. Sair do caos para desenhar um cenário positivo poderá levar quatro anos ou quatro décadas. Tudo depende da prioridade que a ela seja dispensada. É preciso profissionalizar a gestão em todas as instâncias, reforçar a autonomia das escolas, fazer os investimentos de forma adequada, inclusive nas pessoas, valorizando os talentos, observando o marco legal. Motivar à prática da leitura literária implica defendermos o que é o básico do básico, o fundamental, porque o leitor tem as condições de acesso ao que desejar e necessitar conhecer em todas as áreas de conhecimento.
Enxergo ser este um momento oportuno para o Rio Grande do Norte consolidar a sua política pública de promoção da leitura. A Lei 9.169/2009 foi objeto de um projeto de autoria do então deputado estadual e atual governador do Estado, Robinson Faria. Em 2010 foi sancionada a Lei Federal 12.244 que dispõe sobre a universalização das bibliotecas em todas as escolas brasileiras, até o ano de 2020, o que requer planejamento dos órgãos centrais e de cada escola, de modo que estas tenham o seu projeto de leitura articulado com o projeto político-pedagógico.
Quando a escola faz opção pela formação na cidadania, investe numa educação transformadora e, portanto, no empoderamento das pessoas para uma atuação protagônica. Mas, é preciso que o trabalho nas salas de aula e em outros espaços da escola também funcione com a qualidade necessária para que ocorra, por exemplo, a alfabetização à época certa.
Não é mais aceitável uma escola que ao final do 5º ano do ensino fundamental alfabetiza plenamente apenas 6% dos alunos e ao final do 9º ano 15%, conforme dados de estudos do Instituto Paulo Montenegro.
A Semana da Criança também é a Semana Nacional da Leitura, celebrada em todo país. Convém não esquecermos que formar crianças leitoras talvez se encerre num dos atos mais amorosos pra com a infância, indiscutivelmente essencial.
Cláudia Santa rosa é Professora, especialista em Psicopedagogia, Mestre e Doutora em Educação. Diretora Executiva do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e Coordenadora do “Esquina do Conhecimento, projeto pedagógico da Escola Estadual Manoel Dantas. É articulista de temas relativos à Educação e no ano de 2014 passou a publicar, também, minicontos de amor, crônicas e poemas que são tentativas de incursão pelo universo do texto literário. (educadora@claudiasantarosa.com)
Fonte: http://www.marceloabdon.com.br/
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