A Polícia Federal afirma, no relatório de indiciamento contra executivos do Bradesco realizado na terça (31), que o presidente do banco, Luiz Trabuco, era informado por seus subordinados das ações ilícitas realizadas no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
O Carf é um órgão de recursos contra autuações da Receita Federal. Casos de corrupção nele são investigados pela Operação Zelotes, da qual o indiciamento foi um desdobramento.
Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, a PF obteve detalhes das conversas do grupo já denunciado sob acusação de corrupção no Carf com intermediários do banco Bradesco.
Segundo a PF, a organização criminosa integrada pelo ex-conselheiro do Carf Jorge Victor Rodrigues, o auditor aposentado Jeferson Salazar e os funcionários da Receita Federal Eduardo Cerqueira Leite e Lutero Fernandes se juntou aos empresários do ramo de consultoria e advogados Mario Pagnozzi Junior e José Tamazato para negociar com o Bradesco a contratação para atuar em um processo do banco no Carf, que envolvia cobrança de R$ 2,7 bilhões.
No fim, porém, não foi fechado contrato entre o grupo e o Bradesco, que acabou perdendo o processo no Carf. Também não há interceptações telefônicas dos executivos do banco que foram indiciados: além de Trabuco, Domingos Abreu e Luiz Angelotti, todos três por corrupção ativa.
Em meio às negociações entre o grupo e o Bradesco, a PF aponta que houve ações junto ao Carf para adiar o julgamento do processo do banco, que inicialmente tiveram êxito. Depois, porém, o Bradesco foi derrotado. Nas interceptações entre integrantes do grupo, a PF detectou que Eduardo Leite esteve em uma reunião no Bradesco em 9 de outubro de 2014 e, segundo o relatório, Trabuco participou rapidamente do encontro.
O indiciamento se baseia principalmente nessas interceptações telefônicas do grupo, apesar de não terem sido grampeados os executivos do Bradesco. Também não há indicações de repasses financeiros do Bradesco ao grupo ou a funcionários do Carf.
Em comunicado na terça (31), o Bradesco informou que foi pego de surpresa pelo indiciamento e que seu presidente não participou de reuniões com os demais acusados.
“A companhia informa que jamais prometeu, ofereceu ou deu vantagem indevida a quaisquer pessoas, inclusive a funcionários públicos, para encaminhamento de assuntos fiscais ou de qualquer outra natureza”.
Segundo o comunicado, os dois diretores ouvidos pela PF em São Paulo “esclareceram que foram procurados por escritório de assessoria tributária que se ofereceu para advogar uma questão fiscal junto ao Carf”, mas que desses contatos nunca se efetivou qualquer contratação ou pagamento.
A defesa de Eduardo Leite informa que ele nunca “vendeu soluções” ou serviços ao Bradesco ou qualquer outro ente privado e que vai aguardar o posicionamento do Ministério Público Federal sobre o indiciamento.
Em depoimento à PF, Lutero confirmou reunião para saber se o embasamento jurídico do banco “era bom”. Jorge Victor Rodrigues disse que jamais tentou cooptar conselheiros do Carf ou ofereceu possibilidades ao Bradesco.
À PF, Jeferson Salazar, Mario Pagnozzi e Tamazato exerceram o direito de ficarem calados e não prestaram depoimento.
Fonte: Gláucia Lima
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