O delegado de Polícia Federal e deputado Federal Protógenes Queiroz (PC do B/SP) disse que o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci (PT/SP), ainda deve explicações sobre o aumento do patrimônio no ano passado, época em que atuou como principal coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. A empresa de consultoria criada por Palocci faturou cerca de R$ 20 milhões somente em 2010.
Protógenes está em Natal desde a tarde de ontem. Ele veio à cidade para participar de um debate, ontem à noite, sobre a descriminalização do consumo da maconha – algo que se mantém contrário.
O baiano, eleito deputado federal por São Paulo, casado e pai de três filhos, concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE no aeroporto Augusto Severo. Com a barba por fazer, além do “caso Palocci”, Protógenes falou sobre a possibilidade de ser candidato à prefeitura paulistana, o fato de ter sido “puxado” pelo palhaço Tiririca, avanço do crack e do oxi no país, e operação Satiagraha, que completa três anos no próximo dia 8 de junho. Leia a entrevista:
O senhor foi eleito por São Paulo. Qual a base da sua atuação em Brasília?
Praticamente é dar continuidade à bandeira que nós carregamos há mais de 12 anos na Polícia Federal, que é o combate à corrupção, aliada a outras demandas que nós temos encontrado.
O senhor começou seu mandato decepcionado pelo fato de ter recebido pouco mais de 94 mil votos e ter sido “puxado” pelos votos do palhaço Tiririca?
Isso é o que foi veiculado pela grande mídia e há uma total desinformação. O meu partido conseguiu coeficiente eleitoral para eleger dois deputados federais. Tentaram desqualificar de início o meu mandato atrelando a minha imagem à imagem do comediante. Se eu fosse puxado pelos votos dele, muito me honraria. O Everardo [Oliveira Silva] é um apessoa querida no Brasil inteiro. É melhor ser puxado por ele do que por um ladrão da República, como um [Paulo] Maluf, entre outros. Aí sim seria uma decepção.
Como o senhor avalia a forma de atuação do seu partido hoje?
Normal. O PC do B corresponde à realidade da política brasileira. Não é tudo aquilo que nós almejamos, desejamos. Mas, mesmo assim, consegue atingir as principais metas que o partido disponibiliza aos 15 deputados federais e aos dois senadores da República.
O PC do B faz parte da base aliada da presidenta Dilma Rousseff, tanto que tem um ministro [Orlando Silva, dos Esportes]. Ao ser ver, isso é prejudicial à legenda?
Não, muito pelo contrário. Isso é um desafio para o partido, que faz parte desta base aliada desde a época do presidente Lula, que foi um governo bem aprovado. Agora, neste segundo momento, temos uma tarefa também. O deputado Aldo Rebelo é responsável por relatar o Código Florsetal, um palco de muitos acordos, o que é salutar para o país.
Como o senhor vê essa atual crise no governo provocada pelo "caso Palocci"?
Entendo que a realidade política brasileira demonstra o que está ocorrendo na República. Não vai ser só o caso Palocci que vai abalar o governo da presidenta Dilma. Outros casos virão, assim como os vários que se suscederam no governo Lula. Isso é fruto da nova democracia surgida no país. Muitas dúvidas sugiram a respeito da conduta ética ou moral de algumas pessoas, ou até mesmo em relação a possíveis ilícitos provocados por algum membro do governo ou de fora do governo. O Brasil tem convivido com isso desde a época da redemocratização. Ainda somos uma democracia muito nova. Agora, cabe ao ministro Palocci dar as explicações necessárias, como ele está dando. Primeiro ao procurador geral da República [Roberto Gurgel], já informou a alguns parlamentares no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. Ele tem que vir a público e dar as explicações necessárias. Isso é normal.
Seu nome tem sido ventilado como possível candidato a Prefeitura de São Paulo com o apoio do prefeito Gilberto Kassab. Isso procede?
Houve um primeiro movimento nesta direção, mas ainda é muito prematuro. Além de São Paulo, outras cidades desejam o nosso nome para ser candidato a prefeito. Mas isso é fruto da vontade popular e da correlação de força política que vai desenvolver. Mas, de início, temos o nome do vereador Netinho [de Paula, ex-pagodeiro e apresentador de TV], que obteve mais de 7 milhões de votos nas últimas eleições como possível candidato do PC do B a concorrer nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. Em política tudo é mutável, podendo ser decidida na véspera de uma eleição. Eu estou aí para aceitar o desafio que meu partido assim indicar.
Até meados de 2009, o senhor dizia que não iria se candidatar por não “simpatizar com mandato político”. O que o levou a mudar esse pensamento?
Foi uma alternativa que a população encontrou. Eu realmente não queria exerger um mandato de deputado federal porque eu entendia, naquele momento, que a minha contribuição como delegado de Polícia Federal no combate à corrupção, ao desvio do recursos públicos e ao crime organizado seria melhor para o país, mas o sistema corrupto implantado neste país, que ainda tem muito poder e muito dinheiro, assim me impediu de continuar nas fileiras da Polícia Federal. Eu fui afastado liminarmente e fiquei afastado até exercer o mandato. Aí houve o afastamento regular, que foi por conta do exercício da atividade parlamementar. A população entendeu que deveria seguir esse caminho e eu aceitei o desafio. E está sendo bom, pois tenho atuando bastante.
O prefeito paulistano Gilberto Kassab o convidou para ingressar no PSD [Partdo Social Democrático]. Há essa possibilidade?
Houve um convite para eu apoiar a fundação do partido e eu apoiei. A democracia é feita pelo pluripartiarismo. Eu apoio todos os partidos pequenos que existem e os que surgirem. Mas eu não pretendo, em nenhuma hipótese, mudar de partido. Até porque eu estou começando agora na carreira política e estou satisfeito com as diretrizes apresentadas pelo PC do B.
O senhor apresentou um Projeto de Lei que equipara à pena de homicídio qualificado os crimes de peculato e de corrupção ativa e passiva, de 12 a 30 anos de prisão. O senhor realmente acredita que esse projeto será aprovado?
Há muita simpatia, tanto que já é um projeto prioritário na Câmara, para surpresa de muitos, inclusive para mim. Eu acredito que a maioria dos parlamentares simpatiza com essa pena de 12 a 30 anos. Alguns vão se sentir incomodados, até porque eu cheguei a prender alguns dos congressistas, a investigar outros. Mas, eu acredito que se for a plenário será aprovada com margem enorme de votos, brindando a sociedade brasileira. Esse instrumento vai mostrar que a corupção não vale a pena.
A operação Satiagraha completa no próximo dia 8 de junho 3 anos. Qual o balanço que o senhor faz dessa operação hoje?
Ainda é tímido. Não se avançou nada desde que eu conclui a primeira fase, com a condenação do banqueiro Daniel Dantas a 10 anos de prisão, ao bloqueio de 3 bilhões de dólares e ao pagamento de multa de aproximadamente R$ 12 milhões. De lá para cá, nada se fez, nada se construiu. Apenas houve tentativa de obstrução da investigação por parte do banqueiro, que tenta a todo tempo um habeas corpus para poder anular essa operação bem-sucedida. A grande dificuldade para ele é que há imagem e áudio dele ofertando dinheiro aos policiais da Satiagraha, algo em torno de 5 milhões de dólares. Com isso, dificilmente algum tribunal da República vai revogar o trabalho policial ou reformar essa condenação de primeira instância.
O cidadão Protógenes Queiroz acredita na condenação dos envolvidos na operação Satiagraha?
Não de todos, mas os principais sim. O cabeça já foi punido, não de uma forma exemplar, uma vez que deveria estar na cadeia cumprindo pena. Essa é a Justiça que o Brasil deve aplicar nesse mundo moderno que nós vivemos. E não viver de benesses, de criar recursos protelatórios. O povo não aceita mais conviver com esse tipo de impunidade. Só há justiça para pobre, negro, desempregado, desassistido. Para o rico, abastardo que desviou dinheiro público, não. E ainda tem direito de voltar à vida pública no Congresso Nacional. Isso é ruim.
Como o senhor analisa o trabalho da polícia invstigativa no Brasil, em especial da Polícia Federal?
Ainda é muito pífio, um resultado mínimo. Mas, diante dos instrumentos que são disponibilizados pra nós, é até bom. Temos que transformar a polícia em política de estado, e não de governo.
Como o senhor vê o avanço do crack e mais recentemente do oxi no Brasil?
Eu vejo com muita preocupação. Primeiro temos que discutir, debater. Temos que ver qual é o melhor caminho, se é a saúde pública, se a educação, se é dotar o Estado de um maior rigor no combate ao tráfico. É preciso um plano estratégico urgente.
O senhor está em Natal para participar de uma palestra sobre a descriminalização do consumo da maconha. O senhor é a favor ou contra isso?
Eu particularmente sou contra neste momento. Acho prematuro. O Brasil não está preparado para isso. Outros países mais avançados já tiveram essa experiência e houve um aumento numa velocidade muito grande do tráfico de entorpecentes. Mas não podemos desprezar o debate público, a liberdade de cada um expressar a sua opinião.
Quem é culpado pela violência gerada pelo tráfico de drogas: o traficante ou o consumidor?
Os dois.
Fonte: Fred Carvalho
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