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quinta-feira, 29 de julho de 2021

AS INCERTEZAS ECONÔMICAS PERMANECEM

O PIB no segundo trimestre pode ter ficado estagnado ou ser até ligeiramente negativo. A economia cresceu mais do que o esperado no primeiro trimestre, mas não era a retomada, ou o início do crescimento sustentado. Era uma recuperação da queda do ano passado. A indústria foi muito afetada pela falta de peças e componentes, especialmente o setor automotivo. A agricultura enfrentou a mesma seca que reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas, a inflação elevada em itens essenciais, como combustíveis e energia, tem tirado renda das famílias. O Banco Central iniciou um ciclo de alta dos juros em uma velocidade mais rápida do que o esperado. E o vírus continua rondando, agora com sua nova variante.

Nos bancos e consultorias, o cenário mais frequente é de que o PIB deste ano será mesmo de 5%, mas o de 2022 será em torno de 2%. Há muitos focos de incerteza. A recuperação existe, mas é desigual entre os setores e pode estar perdendo fôlego na margem, como dizem os economistas. No início do ano, a indústria surpreendeu, e os serviços decepcionaram. Quando saírem os dados do segundo tri, a indústria pode mostrar números no vermelho, e os serviços devem ficar no azul, pela reabertura da economia.

O economista Nilson Teixeira, sócio da Macro Capital Gestão de Recursos, prevê retração de 0,2% do PIB no segundo trimestre, em relação ao primeiro.

— Na comparação com o mesmo período do ano passado, as altas serão fortes. Mas contra o primeiro trimestre prevemos essa ligeira queda. Os serviços voltaram, mas em intensidade menor que o esperado, pelo baixo estágio de vacinação nesse período. A indústria enfrentou muitos problemas de suprimento e houve férias coletivas no setor automotivo — afirmou Teixeira.

Nessa comparação anual, o Boletim Macro do Ibre/FGV estima um crescimento de 12,7%. Isso porque a comparação será com o segundo trimestre do ano passado, quando houve a maior queda das atividades. Na comparação com o primeiro trimestre deste ano, a expectativa é de alta de apenas 0,1%. Vários componentes do PIB devem registrar contração nesse período: indústria, construção civil, agropecuária e investimentos. Apesar disso, o Ibre melhorou a projeção para 2021. Foi de 4,8% para 5,2%. O olhar para a economia está assim: vermelho em um lado, azul em outro, típico de período de volta da queda, mas sem tração para a arrancada.

Há várias nuvens carregadas no horizonte econômico, de acordo com o economista Sérgio Vale, da MB Associados. A terceira onda da pandemia é um risco cada vez maior, pelos dados da variante Delta em países desenvolvidos. A crise hídrica vai encarecer a conta de luz e aumentar as incertezas sobre o ano que vem, o que sempre afeta os investimentos. Os juros estão subindo em doses mais rápidas pelo Banco Central e já há bancos elevando as taxas de várias linhas, incluindo o crédito imobiliário. A inflação tem surpreendido para pior. Há ainda o risco político, que aumenta a instabilidade, com efeitos sobre o dólar e os principais ativos financeiros. Por tudo isso, a MB faz uma previsão de crescimento do PIB mais baixa do que a média do mercado. Prevê uma alta de 4,7% no PIB deste ano e apenas 1,8% no ano que vem.

A economia conseguiu evitar um solavanco maior com a segunda onda da pandemia e a vacinação avançou no país, apesar dos erros do governo. Mas a variante Delta é uma ameaça. Mesmo que não leve o país à recessão, pode provocar uma desaceleração no crescimento. Tudo isso atrasa a melhora no mercado de trabalho, que vive situação dramática, com quase 15 milhões de desempregados. Essa variante tem provocado aumento de contágio em países que já vacinaram muito mais do que o Brasil. Os EUA, por exemplo, já têm 50% de duas doses aplicadas, enquanto o Brasil está com 22% da população imunizada. Essa variante já representa 90% dos casos por lá, enquanto aqui são apenas 10%.

— A variante Delta está piorando a pandemia em estados com baixa vacinação nos EUA. O risco é de redução no ritmo de crescimento da economia. Ela aumenta o receio da população, reduz o ritmo de abertura, de busca por serviços. As pessoas se sentem um pouco mais receosas para ir para grandes aglomerações – explicou Nilson Teixeira.

Há dúvidas no mundo inteiro sobre a evolução da pandemia e, portanto, da economia, mas o Brasil tem algumas incertezas a mais.

Fonte: Mírian Leitão/O Globo

Foto: Agência O Globo

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