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segunda-feira, 28 de junho de 2021

PESQUISAS DEVEM SEMPRE SER LIDAS COM MUITA PRUDÊNCIA, ESPECIALMENTE QUANDO FEITAS COM TANTA DISTÂNCIA

As pesquisas recentes de intenção de voto para 2022 divergem em certo grau na distância entre os principais candidatos, mas algumas constatações são consensuais:

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva estão bem à frente dos demais tanto no voto espontâneo quanto no estimulado.

Se uma terceira opção conseguir agrupar razoavelmente os insatisfeitos com Bolsonaro e Lula, deve largar de algo entre 10% e 15%.

As margens aqui variam bastante, mas hoje Lula ganharia de Bolsonaro no segundo turno.

Isso se deve principalmente por o presidente, no momento, superar o ex na disputa de mais rejeição.

Pesquisas devem sempre ser lidas com muita prudência, especialmente quando feitas com tanta distância. Aliás, até levantamentos de véspera e bocas de urna têm errado mais que o razoável.

Mas pesquisas são um dos únicos instrumentos disponíveis no voo rumo à pista de pouso da urna no dia da eleição. Em vez de brigar com elas, trata-se de utilizá-las da melhor maneira possível, o que inclui sempre lembrar que elas erram.

E é exatamente por isso que existe a chamada “margem de erro”.

E pesquisas podem até ser mais importantes longe do que perto das eleições. Elas balizam decisões preliminares relevantes dos atores políticos centrais.Um caminho para reduzir a outra margem de erro, não das pesquisas propriamente ditas, mas da interpretação delas, é olhar não no que diferem, mas para o que têm em comum. E se partimos dos levantamentos de avaliação de governo notamos também que:

O ótimo+bom de Jair Bolsonaro deslizou para algo em torno dos 25%, mas o “aprova” continua entrincheirado em um terço do eleitorado. Aliás, se você quer saber a aprovação do governo pergunte exatamente isso. Pois sempre um pedaço do “regular” mais aprova que desaprova. E isso não aparece no ótimo+bom.

E o ruim+péssimo oscila em torno da metade dos eleitores.

É preciso tomar cuidado com a aritmética bruta, pois uma parte do eleitorado não vota. E no Brasil pesquisas não costumam perguntar se o eleitor vai comparecer. Diferente dos Estados Unidos, onde se levantam duas estatísticas: a colhida nos “registered voters” (eleitores registrados) e a nos “likely voters” (prováveis votantes).

A síntese das pesquisas eleitorais relativas ao presidente, ao governo federal e à corrida de 2022 está algo clara. Jair Bolsonaro preserva o market share dele no primeiro turno de 2018, em torno de um terço do eleitorado (não confundir com os 46% do voto válido). Mas enfrenta a apatia, a desconfiança ou a rejeição no restante do mercado eleitoral.

Muito em função de como vem conduzindo as políticas para enfrentar a Covid-19.

As próximas pesquisas deverão medir o efeito dos últimos acontecimentos na adesão do eleitor bolsonarista ao candidato à reeleição. Inclusive qual será a reação do núcleo duro da base social dele.

Mas a incógnita-chave é como estará o humor da população ano que vem, especialmente em meados de 2022. Qual será o peso das consequências da pandemia, após a vacinação em massa? Em que ritmo estará a recuperação econômica? Qual terá sido o impacto da possível crise energética decorrente da escassez de água nos reservatórios? O que vai pesar mais: a crítica aos erros do governo na Covid-19 ou a euforia por ela, ou a maior parte dela, ter passado?

E quem vai se sintonizar melhor com o humor do povão?

Fonte: Alan Feuerwerker/Metrópoles

Foto: Reprodução

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