Senhoras e senhores, nossa abordagem desta feita parte de reflexões acerca de uma breve viagem que empreendi pelo interior do Ceará, indo até a minha cidade natal, Nova Russas, acompanhado de um grupo de amigos potiguares. E lá visitando, fotografando ou filmando nossa realidade, colhemos registros que nos levaram a algumas deduções e a muitos porquês. Então, por que tínhamos uma população densa no campo, maior do que na cidade, numa proporção de 60% para 40% e hoje temos 80% na cidade e 20% no campo? Uma natureza exuberante, um rio piscoso, em tempos de inverno, com vários afluentes onde vivificavam a fauna e a flora exuberantes e hoje a natureza é morta? Uma estrada de ferro que nos ligava de Pedro Segundo, no Piauí, à capital cearense, Fortaleza, transportando pessoas e escoando produção, sobretudo aquela baseada, na agricultura, na pecuária e na indústria voltada para o beneficiamento do algodão e hoje a atividade ferroviária não passa de uns poucos cargueiros transportando muito pouco? Porque a nossa iniciativa privada gerava mais de 90% da nossa riqueza e nesse mesmo percentual empregava a força de trabalho e hoje a grande força de nossa economia provém de aposentações, bolsas institucionais e serviço público em geral, praticamente suplantando e setor produtivo? Enfim, por que tínhamos uma vida social e cultural movimentadas, com Luiz Gonzaga, Jovem Guarda e Beatles, no comando e hoje só chororô e gritos?
Bom, as respostas para tudo isto ficariam mais afeitas aos historiadores, sociólogos, antropólogos dada a universalidade e complexidade. Todavia, ousarei, mesmo empiricamente, tecer considerações acerca do fenômeno. Para organizar um raciocínio lógico entendo por bem fazer um corte na história para situar o período pós 1964 como referência. Deste modo, afirmamos desde logo que o momento inicial dos governos militares, ainda com laivos de democracia, foram positivos do ponto de vista da proposta desenvolvimentista, porquanto em seu bojo vinha traçada uma ampla política agrária, com foco na reforma agrária, que objetivava aumento da produção, da produtividade, da preservação dos recursos naturais renováveis, do respeito às relações de trabalho e do bem-estar do homem rural, compatibilizando a produção agrária com a política industrial do País e, consequentemente, com o desenvolvimento geral da Nação.
Com efeito, lamentavelmente na prática a teoria foi outra. Tudo o que foi pensado, planejado e institucionalizado no ano de 1964 foi desvirtuado. O crédito rural, por exemplo, ao invés de fomentar o desenvolvimento rural serviu como mecanismo de descapitalização do homem do campo e não eram incomuns as impiedosas adjudicações das terras, sobretudo das pequenas e médias propriedades, pela via da execução judicial. Esse despautério desarticulou uma cultura produtiva histórica e ensejou um êxodo rural desarrazoado, jogando para as cidades, especialmente para as periferias, uma população imensa, instaurando o caos social que hoje temos. Enquanto isto, ao mesmo tempo o governo fomentava nos centros urbanos programas sociais, sobretudo os habitacionais (BNH), saúde, educação, segurança e altos subsídios para setores produtivos como bancos, indústrias e comércios, tornando-os ainda mais atrativos.
Para finalizar, voltando para a nossa referência, a minha querida Nova Russas, eis as razões por que não temos mais rio e afluentes piscosos, fauna ou flora ciliares; hoje eles estão mortos ou viraram esgotos; nossa força de trabalho deslocou-se expressivamente para a cidade; os programas sociais comandam a economia (vale dizer que são imprescindíveis para fazer face ao status quo); nossa estrada de ferro, sem produção, também foi pro espaço; os funcionários públicos viraram uma legião de servidores; nossa vida social está gélida, sobretudo ante a degradação das famílias, com a droga comendo no centro (pelo que me informaram até cracolândia já tem). Nossa cultura está entregue aos “Pablos” e as “pererecas suicidas”, em pese uma turma de heróis resistir bravamente do lado da MPB ou firmando trincheira na boemia no Bar do Pelelega. E para terminar mesmo de verdade, concluo que ditadura ainda que seja boa não presta. Eis os males da ditadura na perspectiva posta!
Fonte: Francisco de Sales Matos é Advogado, Membro da ALEJURN/http://tribunadonorte.com.br/
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