O vídeo acima contém cenas gravadas num culto ministrado pelo deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na cidade mineira de Passos. Deu-se na noite de sexta-feira. A certa altura (12min43s da fita), ele diz às suas ovelhas que não atende aos apelos para renunciar à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em atenção a um apelo do próprio Deus.
“Confesso a vocês que tem dias que a angústia é tão grande que dá vontade de abandonar tudo. Mas aí, lá do céu, vem uma voz inaudível aos ouvidos dizendo: aguenta, filho! Porque não é você agora, não é o seu partido, é a minha igreja que está sendo representada lá.” No início da gravação, Feliciano diz que, antes dele, era o Tinhoso quem dava as cartas na comissão.
Como ocorre desde o início de março, Feliciano foi recepcionado por manifestantes hostis que se reuniram defronte do templo de Passos. Por isso, abriu sua pregação pedindo licença aos fiéis para falar da encrenca da Câmara. Logo no início (aos 42s na fita), ele declara:
“Essa manifestaçãoo toda se dá porque, pela primeria vez na história desse Brasil, um pastor cheio de espírito santo conquistou um espaço que até ontem era dominado por satanás.” Para reforçar a tese, mencionou um seminário realizado em outubro de 2012 na comissão que hoje preside:
“O nome do seminário era: ‘Diversidade Sexual na Primeria Infância’. [...] Eu tive que ouvir ali autoridades, pessoas constituídas, de autarquias como o Conselho de Psicologia, do MEC… Eles falarem assim: ‘se uma criança na creche sentir vontade de tocar o órgão genital da outra, a professora não pode impedir. Porque criança não nasce homem nem mulher, nasce gênero.”
Ovacionado pela multidão, Feliciano arrematou: “E a mulher que estava discursuando terminou dizendo assim, com um sorriso nos lábios: ‘deixem as crianças se divertirem’. Senhoras e senhores, eu morro, mas não abondono a minha fé. [...] Não vão ganhar no grito…”
Fustigado em Brasília, Feliciano é aclamado nos templos. Ele corre o Brasil. Na véspera do culto mineiro de Passos, ele pregara para uma igreja apinhada de Salvador. Da capital baiana, voou para Porto Velho, em Rondônia. Em nota veiculada no Twitter, estimou a audiência em 15 mil pessoas. Exagero. Mas a foto abaixo mostra que, de fato, havia fiéis saindo pelo ladrão.
Quem ouve Feliciano percebe que a encrenca que ele arrumou como deputado tornou-se mote de suas pregações como pastor. No culto de Passos, chegou mesmo a comparar-se a Jesus (7min14s da fita):
“Jesus também era perseguido, era apedrejado. A Bíblia sagrada conta que houve vezes em que o espírito santo precisou esconder Jesus porque a multidão queria linchá-lo nas cidades. Estamos vivendo dias semelhantes àqueles. Dias semelhantes aos que o apóstolo Paulo foi jogado de cima de muralhas. Dias em que os apóstolos foram perseguidos por causa da sua fé.”
Eleito em 2010 com 211 mil votos, Feliciano parece vislumbrar na polêmica que o engolfa uma picada para potencializar a votação de 2014. É como já foi comentado aqui: o pastor-deputado faz dos seus antagonistas uma oportunidade a ser aproveitada.
Fonte: Josias de Souza
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