Usam as redes sociais para maldizer a região, onde Lula venceu.
Postagens foram colocadas com a inscrição: “Não viaje para o nordeste. Eles são autossustentáveis e não precisam de você. ”
Outra publicação na Internet: “Eis, você que mostra no Sudeste, centro oeste, estados que sustentam o país, bora deixar de passar férias, réveillon no Nordeste, povo que só ferra a gente” .
“Procurem outros destinos, deixem o Nordeste sem turismo, com forma decepção. Vamos ver quanto tempo aguentam sem a nossa grana”.
O mais incrível foi a declaração de Ângela Machado, esposa do presidente Rodolfo Landim, do Flamengo, com violento ataque xenófobo contra nordestinos, após a derrota de Bolsonaro.
Disse ela nas redes sociais:
“Ganhamos onde produz, perdemos onde se passa férias.
Bora trabalhar porque se o gado morre, o carrapato passa fome”.
Ângela fechou as suas redes sociais.
Todavia, amarga forte repercussão que mancha também a história do clube, que tem enorme contingente de torcedores em estados nordestinos.
A CBF é presidida por um nordestino (nascido em Vitória da Conquista, Bahia).
Uma situação muito similar ocorreu em 2010, quando Dilma foi eleita presidente.
Na época, Mayara Petruso, estudante de direito, postou o seguinte tuite:
“Nordestino não é gente, faça um favor a SP. Mate um nordestino afogado”, pelo qual foi denunciada e condenada a 1 ano, 5 meses e 15 dias de prisão pelo crime de racismo, sendo a pena convertida em serviços comunitários.
Xenofobia é crime, previsto no artigo 140 do Código Penal.
São atitudes de incitação ao ódio, avesso aos valores cristalizados em um ordenamento jurídico construído sob a égide do princípio da dignidade da pessoa humana.
Essas reações xenofóbicas não podem receber a proteção da garantia constitucional da liberdade de expressão, haja vista que esse direito, apesar de ser um direito fundamental assegurado em inúmeros tratados internacionais e no texto constitucional da República do Brasil, sofre limitações para o seu exercício.
As discriminações contra os nordestinos funcionaram como um gatilho após o último 2 de outubro, quando o ex-presidente ganhou em todos os estados do Nordeste, conquistando uma vantagem de 10,96% dos votos em relação ao atual presidente e saiu vencedor em boa parte do Norte do país.
Muitos fatos históricos e concretos mostram que a migração nordestina é um dos maiores fatores do progresso do Sudeste.
“Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo, nóis vamo a São Paulo, viver ou morrer”.
O verso da canção ‘A Triste Partida’ do poeta e repentista cearense Patativa do Assaré, ilustra a realidade de milhares de migrantes nordestinos que deixaram sua terra natal em busca de sobrevivência e ajudaram a construir a grandeza econômica do Sudeste.
Na literatura, Gilberto Freyre (1920), a partir de Recife, propagou a definição do Nordeste como o "berço da nacionalidade", confrontando com a intelectualidade paulista, que estabelecia São Paulo como a "locomotiva" do Brasil e as outras regiões transformadas em meros "vagões" a serem carregados pelo desenvolvimento do estado.
O jornalista Ancelmo Gois, do Globo, ao comentar as atitudes preconceituosas contra os nordestinos nesta última eleição, escreveu que o nordestino agiu, de certa forma, como o eleitor mais refinado das democracias mais modernas do mundo.
Guiou-se pelo bolso, como fazem aqueles que lidam a economia em elevados patamares.
Os nordestinos seguiram o conselho do marqueteiro político James Carville, que assessorou Clinton na eleição, ao dizer que “a economia” define o voto favorável.
Acrescente-se: o estomago também.
Os pobres nordestinos guardaram na memória a recordação dos governos petistas, sobretudo com a continuidade do Bolsa Família, hoje ampliado e aplaudido.
Qual empresário não agiria da mesma forma, se beneficiado com incentivos e estímulos que lhe propiciasse crescer e ter lucros na sua empresa?
Uns e outros têm suas razões, embora não se negue que existem outros valores, além da economia, que devem ser ponderados na hora de votar.
Está provado que um governante não pode olhar apenas para planilhas econômicas e favorece-las.
Há que dividir preocupações, simultaneamente, com a erradicação da miséria, que não pode esperar.
Um dever humano e cristão!
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